“Morrer é só não ser visto” (Planeta, 2020 – reedição), de Inês de Barros Baptista, é um testemunho tocante, espontâneo e sincero sobre a morte de um ser amado – e, também, uma ajuda na perspectiva de como se encara o luto. O título é retirado de um poema de Fernando Pessoa (A Morte é a Curva da Estrada), instrumento inspirador para a autora retirar o ameaçador fatalismo que o ser humano considera estar associado à morte.
Trata-se de um livro corajoso, onde Inês Baptista reúne aquilo que designa como treze histórias de “lutos positivos”, protagonizadas por pessoas anónimas e conhecidas – Rosa Lobato Faria, José Luís Peixoto ou Paulo Teixeira Pinto – que também perderam entes queridos. Algumas são difíceis de ler de tão pungentes, mas todas elas denotam um entendimento clarividente sobre a morte, bem como uma fé sobre o que está para além da curva – porventura o lugar a que sempre pertenceram.
Em entrevista publicada antes da 1ª edição, a autora assumiu esperar que o livro ajudasse as pessoas a lidar com a inevitabilidade da morte, dizendo que a morte ”não tem de ser necessariamente o fim, podendo mesmo ser o início de um outro tipo de relação”. Para se compreender a dimensão desta obra, devemos ter bem presentes o verso de Pessoa e as palavras da autora, no prefácio que designou “a terra é feita de céu”.
O verso de Pessoa: A morte é a curva da estrada/Morrer é só não ser visto/Se escuto, eu te oiço a passada/existir como eu existo. A terra é feita de céu/A mentira não tem ninho/Nunca ninguém se perdeu/Tudo é verdade e caminho. O que diz a autora: “Desde muito pequena, tenho a sensação de viver longe de casa. Como se a Terra, a matéria e a própria humanidade mais não fossem do que um brevíssimo intervalo na eternidade a que todos pertencemos”.
Após a integração destas duas visões (complementares), o leitor lerá os testemunhos de pessoas em luto, que nos explicam a sua forma de sentir cada uma das perdas que tiveram e nos iluminam o caminho, mostrando outras formas de encarar situações perturbadoras e disruptivas da nossa vida afectiva. A morte e o luto, temas-tabu da sociedade, são aqui desvendados e desmistificados de forma desassombrada e resiliente.
Inês de Barros Baptista trabalhou como jornalista vários anos e é autora de várias obras, entre as quais ”Há vozes na Ilha” “Quem era eu antes de mim? “e o “Cromossoma do Amor”.
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