Fruto de uma parceria entre Marjorie Liu (texto) e Sana Takeda (ilustrações), Monstress é uma das mais cativantes histórias da actualidade no que à BD diz respeito, onde tanto encontramos a vertigem dos sonhos de um Sandman como as manhas políticas de uma Guerra dos Tronos, num universo onde a presença feminina é claramente dominante.
“Monstress 3: Refúgio” (Saída de Emergência, 2019) vê Maika Meiolobo a caminho da cidade neutral de Pontus, onde espera encontrar um refúgio temporal dos seus perseguidores, que a seguem em três navios de carreira das Rainhas de Sangue. Pontus poderá, ainda assim, não ser o abrigo de que Maika está à espera, uma vez que o escudo que protege a cidade já conheceu melhores dias. Agora, e para voltar a uma operacionalidade que evite a entrada de convidados indesejados, apenas obedecerá a alguém que o tenha a correr com força nas veias. Se Maika recusar a aventura proposta de reparação, terá de pegar na raposa e no gato e sair de Lágrima Derramada e aguentar com as Rainhas de Sangue.
Maika que, sem qualquer freio, continua com o seu paleio de adolescente rebelde, até quando se dirige ao Senhor das Sombras Infinitas – o monstro que decidiu habitá-la em modo squatter e que esteve três semanas em silêncio depois de ter comido uma tripulação inteira: “Agora é que acordas, foda-se? E quando decidiste ser altruísta?“. Do outro lado, a resposta chega não sem alguma preocupação parental: “Criança, tens algum talento para matar. Mas quanto a sobrevivência estás perdida no mar“.
Com a guerra entre humanos e arcânicos pronta a rebentar, o tempo é também de desconfiança e de fachadas duplas, sejam elas a de Lorde Corvin, que supostamente foi enviado pela Corte da Aurora para matar Maika mas se conteve, ou do Gato que acompanha Maika, que parece carregar consigo uma maldição que o impede de ser bonzinho o tempo todo.
Uma vez mais e em paralelo vamos conhecendo excertos de uma palestra dada pelo prezado Professor TamTam, antigo primeiro arquivista do Templo de Is’hami e contemporâneo erudito de Namron Garra Negra. Uma espécie de gato poeta que nos conta mais sobre Moriko Meiolobo, a irmã gémea da Senhora da Guerra – conhecida por Espada do Oriente -, que descobriu algo num dos arquivos ocultos da Corte da Aurora que fez com que decidisse abandonar a Corte e deitar fora qualquer ambição política, passando a examinar obsessivamente as velhas ruínas da imperatriz-xamã. Ou, ainda, que nos conta a história dos gatos, a primeira e última raça a desaparecer, e de deuses transformados em “criaturas de tragédia e romance, ansiando por caminhar entre os mortais e partilhar a sua sabedoria“, todos enganando menos a gataria, que acabou perseguida pela Federação.
Magia, caos, sombras e deuses, numa história de fantasia complexa servida pelos desenhos incríveis de Takeda, que nunca nos deixam ver a claridade. Uma daquelas séries para seguir de perto, onde cada releitura deixa descobrir novos pormenores.
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