Como nos trata de avisar Henrique Manuel Bento Fialho logo de entrada, fazendo-se valer das palavras de Ramón Gómez de la Serna, “o importante não é ter ou não ter micróbios, mas sim tê-los ou não amestrados”.
Licenciado em Filosofia e com uma existência laboral onde cabem os nobres ofícios de professor, divulgador de cursos técnico-profissionais, explicador, formador, jornalista freelancer, operador de telemarketing ou livreiro, o autor tratou de amestrar os seus próprios “Micróbios” (Abysmo, 2021), através de 376 pequenas entradas onde se descobre um pouco de tudo – correpondendo, a última delas, a um mísero ponto final -, mas que, num plano geral, mergulha na “vidinha figurante, cada vez mais complexa e infernal”.
Neste pequeno livro com o selo da Abysmo, apresentam-se soluções alternativas para maleitas existenciais, fazem-se jogos gramaticais com palavras de duplo sentido (como beata ou ferro), sentam-se à mesma mesa vegans, santas e strippers, pede-se a bênção da esbelta Afrodite, reclama-se do atraso dos subsídios, recorda-se o primeiro amor, pede-se a leitura da sina, assina-se o livro de ponto, contam-se histórias onde há surdos, cegos e mudos, encenam-se dramas domésticos, trágicos ou balneares e ouve-se, como banda sonora, as quatro estações…ferroviárias. Tudo com muito humor negro e transportando, em ombros, o cinismo e a sátira, numa visão do mundo onde os micróbios são nossos amigos (ou talvez nem tanto).
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