es·toi·cis·mo
nome masculino
1.Doutrina que aconselha a indiferença e o desprezo pelos males físicos e morais e a insensibilidade perante quanto pode apaixonar ou afectar.
2.[Figurado] Firmeza; austeridade; constância no infortúnio.
“estoicismo”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/estoicismo [consultado em 17-04-2021].
Estávamos na Atenas do início do século III a.C. quando Zenão de Cítio (334-262 a.C.), um adepto e membro da filosofia helenística, decidiu fundar o estoicismo. Os estoicos defendiam que as emoções destrutivas resultavam de erros de julgamento – da relação activa entre determinismo cósmico e liberdade humana -, e que seria virtuoso manter uma vontade (chamada de prohairesis) que estivesse de acordo com a natureza. A filosofia era assim encarada como um modo de vida, onde o mais importante não era o que uma pessoa dizia mas a forma como se comportava.De modo a viver-se uma boa vida, era preciso compreender as regras da ordem natural, uma vez que tudo estava enraizado na natureza.
Muitos anos depois disso e numa outra geografia, Marcus Annius Verus (121-180 d.C.) foi adoptado pelo imperador Antonino Pio, acabando por suceder-lhe no ano 161. Apesar de o seu governo ter sido marcado por graves disputas internas, Marco Aurélio – como ficou para a História – é evocado como um excelente administrador e um dos maiores líderes da História. Fortemente influenciado pelos princípios do estoicismo, dedicou-se ao estudo e à reflexão filosófica, reflectida numa série de diários escritos para aperfeiçoamento pessoal.
“Meditações” (Ideias de Ler, 2021) reúne uma série desses diários e, à distância de vários séculos, continua a ser lido como um guia de conduta que apela à reflexão, própria e com os outros, onde se interroga a auto-disciplina, a humildade, a racionalidade e a natureza das emoções.
Ao longo desta travessia filosófica e muito estóica, a máxima que sobressai é a de viver cada dia como se fosse o último, mas não como o espírito live fast die young: importante será sempre evitar os vícios. Não esquecer que estas reflexões foram escritas em plena peste antonina que, em 15 anos, matou mais de 5 milhões de pessoas no Império Romano.
Sendo a vida do Homem um mero instante, onde “a vida do corpo não passa, em suma, de um rio, e a vida da alma é um sonho nebuloso”, e a existência parece estar entre o espírito de uma guerra e a incerteza da viagem a uma terra estranha, cabe à filosofia servir de guia, capaz de “manter a divindade interior intacta e inviolada, triunfante sobre a dor e o prazer, livre da temeridade, da falsidade, da hipocrisia, independente do que os outros fazem ou deixam de fazer”. Para que, quando chegue a hora do adeus terreno, se possam ouvir estas palavras do encenador que montou a existência numa peça de três actos: “Parte, pois, graciosamente, pois é gracioso aquele que te despede”.
1 Commentário
Muito bom.Inacreditável perceber como o mundo politico é destituído desses ensinamentos.