• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Maestra, L. S. Hilton,Editorial Presença,Deus Me Livro
Mil Folhas 0

“Maestra” | L. S. Hilton

Por David Pimenta · Em 29/07/2016

“Não me interessa ser conquistada. Não me interessa seduzir, ou sair, ou que me mintam, o que normalmente acontece. Gosto de escolher. É por isso que gosto de ir a festas, porque essas porcarias chatas já estão todas tratadas; ninguém vai a uma festa à procura de uma alma gémea para se entreolharem e se verem reflectidos nos olhos um do outro. Viver sozinha, no mundo real, é mais complicado.”

Se há livros capazes de levar o mais simples leitor a um novo universo, totalmente distante da sua realidade, um deles é este “Maestra” (Editorial Presença, 2016). Entres os dias preenchidos por horas na monotonia do emprego, pelas notícias badaladas por surpresas económicas ou de vidas privadas – há que saber a que se quer chegar – Lisa Hilton, conhecida neste momento como L.S. Hilton, consegue os quinze minutos de fama no mundo literário: com uma boa dose de liberdade sexual, marcas caras no corpo da sua protagonista e uma viagem pelo submundo das obras de arte. Depois do público prestar atenção a Christian Grey, o homem tão desejado de “As Cinquentas Sombras de Grey” devido ao seu gosto peculiar em território sexual como forma de esquecer os seus fantasmas pessoais, chega a vez de Judith Rashleigh fazer-se valer da satisfação que obtém no sexo. Mas desenganem-se todos os que esperam obter uma intemporal narrativa de amor.

“Maestra” é, na sua essência, uma história caracterizada de ausência. Não existe qualquer tipo de pudor, humildade ou dificuldade. Judith Rashleigh explora a sua paixão pela arte como assistente da British Pictures, uma conceituada leiloeira situada em Londres. Após um ano de estágio, completado com todo o seu empenho, acredita começar a sua escalada rumo ao sucesso entre os amantes de obras de arte, mas rapidamente se apercebe de que é provavelmente a única a dar importância ao que há de mais belo no negócio. (“Depois, apercebi-me de que os carregadores, os tipos que transportam os quadros, são provavelmente os únicos que se importam com eles. Para os restantes, até podiam vender fósforos, ou manteiga.”) Na British Pictures, apercebe-se de que o mais importante é viver o dinheiro que é facturado, os negócios com duques desesperados e “oligarcas socialmente ansiosos” por se livrarem dos quadros que têm nas paredes das suas mansões e as relações – perversas e sexuais, na maioria dos casos – em que se obtém sempre algo em troca.

No entanto, paixões não pagam despesas e, num bom enredo, nada acontece ao acaso. Ao deparar-se com Leanne, na linha de metro de Piccadilly, nem imagina que está a poucos passos de explorar um mundo novo e ganancioso. A elegante Judith, protegida pelo envolvimento de um mundo de negócios socialmente atraente, deixa-se seduzir pelo dinheiro fácil que obtém como acompanhante no Gstaad Club “às quintas e sextas-feiras à noite”. A sua única função é fazer companhia aos homens que a escolhem, deixando-os pagar todas as bebidas que estão dispostos a oferecer: é desta forma que vê a sua conta bancária a subir. E é a partir do momento em que viaja com um dos seus melhores clientes e com a sua amiga Leanne que tudo começa a desmoronar-se à sua volta. Um ambiente de perversão acaba por dominar esta Maestra.

Maestra, L. S. Hilton,Editorial Presença,Deus Me LivroEm entrevista à Sábado, L. S. Hilton afirmou que seria a diversão o ingrediente para o interesse do público pelo seu livro. “É um livro divertido – em inglês temos uma expressão, tongue in cheek [a língua na bochecha; não é para levar a sério o que se está a dizer]. Quis fazer um livro em que as pessoas virassem as páginas ansiosas por chegarem ao fim”. O resultado é bem conseguido. O ingrediente de suspense, a cada novo esquema engendrado por Judith para triunfar no submundo das obras de arte, capta eficazmente a atenção. Associada ao erotismo, “Maestra” consegue chegar a despertar a atenção por ter uma personagem tão desequilibrada e radical: uma mulher viciada pela obtenção de sucesso, que passa por cima de quem tem de passar. Todos os ideais nobres e altruístas, associados ao mais puro dos heróis, está longe de ser prioridade para Judith.

“Em teoria vivemos um tempo em que o sexo está liberalizado. Na verdade, acho que as mulheres são mais julgadas no seu comportamento sexual do que há uma geração. Acho que as mulheres ainda se autocensuram, se sentem envergonhadas sobre os seus apetites sexuais.” Judith Rashleigh é a forma de combate contra a autocensura feminina. Uma mulher com objectivos definidos, uma beleza apurada e sem preocupações com os pensamentos alheios. Envolvida num enredo de acção e aventura, exemplos deste tipo de heroína não faltam na história da literatura, mas há que saber aproveitar os quinze minutos de fama à mínima oportunidade. “Maestra” é uma promessa de sucesso, pelos ingredientes colocados ao longo da história, e é capaz de deturpar os mais nobres e puros corações.

Editorial PresençaL. S. HiltonMaestra

David Pimenta

Pode Gostar de

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors, Mil Folhas

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista, Mil Folhas

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular, Mil Folhas

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Mil Folhas

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors,

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

    08/05/2025
  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista,

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

    08/05/2025
  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular,

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

    07/05/2025
  • Dentro da Tenda, Lucie Lučanská, Deus Me Livro, Crítica, Planeta Tangerina,

    “Dentro da Tenda” | Lucie Lučanská

    07/05/2025
  • Um Lugar Luminoso Para Gente Sombria, Mariana Enriquez, Deus Me Livro, Crítica, Quetzal,

    “Um Lugar Luminoso Para Gente Sombria” | Mariana Enriquez

    30/04/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto