Com “Mãe, promete-me que lês” (Guerra & Paz, 2018), Luís Osório, autor reconhecido publicamente após duas décadas no jornalismo e seis livros publicados (o que o torna mais escritor do que jornalista), decidiu abrir o mais intocável e não visitado das suas intimas memórias familiares, publicando-as agora, neste seu segundo romance literário, como um impressionante testemunho pessoal de coragem inaudita, impossível de rotular de tão real e vívido.
Como que numa vertigem, o leitor sente-se sugado para o centro convulso das histórias autobiográficas, sentidas, emotivas, desesperadas, iradas, magoadas, corajosas, cruas, prazerosas, dolorosas, humilhantes, zangadas, extremadas, devastadoras, pungentes, amaldiçoadas, ternas, reconhecidas e insuportáveis, que fazem esta obra atingir, a par do estilo de escrita de Luis Osório, o patamar próprio de um dos grandes acontecimentos literários de 2018.
Uma obra de luz e penumbra, de dores e de afectos intensos, com páginas nuas de quaisquer enfeites apaziguadores e cruas na sua linguagem, por onde perpassa uma espécie de culpa que parece habitar o autor de uma forma silenciosamente dolorosa e que, pressentimos, quis expurgar para (re)construir a sua identidade.
Como bem diz Daniel Sampaio, ”Luís Osório escreve um texto onde a ternura e o desespero alternam e o passado ilumina o futuro. Um livro que não deixará ninguém indiferente porque tem a ver com a construção do sentido de vida para cada um de nós. Um livro extraordinariamente bem escrito, surpreendente e inesquecível”.
Cada leitor sentirá, inexoravelmente, que Luís Osório invade também o seu íntimo, que explodirá agora como tempestade de sentimentos e de emoções, até aí guardadas no mais recôndito do seu ser num lugar blindado.
Esta carta de Luís Osório a sua Mãe, dez anos após a sua morte, é uma história de um tempo ancorado, entre outros factores quase malditos, no desespero, na violência, na solidão, no abandono, no ciúme e na morte e onde, mesmo assim, a esperança na vida e no amor dos outros consegue emergir com renovada força.
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