A história de Macho-Alfa esteve a marinar na gaveta de Filipe Duarte Pina até ficar bem tostada, tendo o primeiro volume (ler crítica) sido lançado durante o festival Amadora BD 2021, ficando desde logo prometida uma saga em 4 volumes.
Nesta história politicamente incorrecta, com argumento de Pina e arte de Osvaldo Medina, contam-se as desventuras de um super-herói pouco comum: tem as Finanças à perna, não consegue gerir o seu grave problema de raiva e dá cabo de tudo aquilo em que toca, revelando noções de justiça ou de heroísmo que seriam capazes de envergonhar Deadpool.
“Macho-Alfa: Parte Dois” (A Seita/ Comic Heart, 2022) continua a seguir este super-herói que, nos dias em que não veste a capa, se chama David Ferreira, é desempregado, não tem amigos e foi excluído da vida em sociedade após ter feito asneira da grossa, vivendo num estado depressivo muito avançado.
Sentado num banco de tribunal, para o qual se dirigiu voluntariamente num julgamento semi-popular, vai ouvindo apupos das bancadas: “Fora com ele!”, “Ladrão!” e “Filho da puta!” são os mais recorrentes. Quanto ao lado da lei, menos dado ao vernáculo, resume de forma sucinta um currículo de duas décadas: “Actualmente, o senhor acumulou mais de 500 vítimas ao longo dos seus quase 20 anos de ´super-heroísmos`”, a que se juntam “vários casos de destruição de propriedade pública e privada”. Pelas contas da lei, passando dos contras aos prós, tanto barulho resultou em ´apenas` 27 pessoas salvas. Além disso, nunca pagou IRS ou Segurança Social, o que faz com que a indignação popular cresça a olhos vistos.
Depois de ser condenado a abdicar do super-heroísmo, vê-se atirado para um novo reality show que se movimenta entre o escaldante e o secreto, acabando por trocar as voltas ao estado televisivo e impor a lei do Alfa. O final, bem ao estilo de um Oppenheimer sem ponta de culpa ou remorso, deixa-nos perdidos num silêncio sepulcral, tentando descortinar o que raio se irá passar a seguir. A meio caminho desta tragicomédia, continuamos a ter macho (sempre num impossível bom sentido).
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