Depois da publicação em três volumes de “Verões Felizes”, a Arte de Autor – em parceria com a editora A Seita – fez chegar às livrarias mais um volume da dupla-maravilha Zidrou/Jordi Lafebre: “Lydie” (Arte de Autor, A Seita, 2023), um álbum que, entre outras coisas, nos deixa uma importante lição: “Era o que faltava termos de internar uma pessoa só porque está feliz!…”.
No mapa está impresso como Beco Van Dick, mas toda a gente o conhece como o Beco do Bebé com Bigode. Tudo por causa de uma publicista que colocou um cartaz num lugar improvável, seguindo-se uma brincadeira de “um malandreco do bairro”, que desenhou um bigode que ficou impresso para a posteridade.
É nesta geografia que vive Camille Tirion, uma mulher que perde a sua filha durante o parto, filha a que iria chamar Lydie. Dois meses depois, Camille surge radiosa dizendo a toda a gente: “A minha bebé! A minha bebé voltou!”. A partir daqui, aquilo que poderia ser considerado um caso de insanidade com direito a internamento transforma-se num cenário de O Rei Vai Nu, com o berço vazio a ser transportado para todo o lado e, aos poucos, todos a quererem pegar nesta bebé ao colo, que vai crescendo, alimentando e nutrindo relações de comunidade.
Numa história narrada pela Nossa Senhora do Filho Perdido, “uma estatueta: madeira, um pouco de tinta e alguns bocados de tecido”, Zidrou e Jordi Lafebre servem-nos uma impressionante galeria de personagens: Augustin, o antigo maquinista de locomotivas, alguém que desde cedo se habituou a conviver com a perda; Victor Halpert, tipógrafo, um bom homem que faz desaparecer as ninhadas da sua gata antes que as crianças acordem; Doutor Fahim, que “nunca deixa um paciente sem lhe contar uma pequena história, inventada por ele”; Iréne, uma velha venenosa e dada à má-língua que, segundo o empregado do café onde passa mais de metade do dia, debita “mais disparates por hora do que a minha bomba debita cervejas!”.
Situado na fronteira entre a imaginação e a realidade, “Lydie” é um livro emotivo e comovente sobre a superação da perda, uma história sobre como a empatia e a entreajuda podem chegar dos cenários mais improváveis.
Sem Comentários