“Em Fevereiro de 2020, Daniel Mordzinski despediu-se de Luis Sepúlveda com um abraço apertado e as palavras «até breve, irmão». Estavam no festival literário Correntes d`Escritas, na Póvoa de Varzim, e – sem que o soubessem – a pandemia dava os primeiros passos em Portugal.”
As palavras servem de lançamento a “Mundo Sepúlveda” (Porto Editora, 2023), livro de homenagem sentida a Luis Sepúlveda, no qual as palavras do escritor chileno – em textos até agora maioritariamente inéditos – encetam um emotivo diálogo com as fotografias de Daniel Mordzinski.
O fotógrafo e grande amigo do escritor refere-se a este livro como tendo nascido da sua necessidade de “pôr um ponto final neste luto”, construindo uma “ponte transversal entre literatura e fotografia”, “um tandem que nos permite assomarmos aos lugares que tiveram especial sentido na vida do escritor, das cidades da sua infância e juventude até àquela última em que residiu até à morte, descorir as anotações dos seus sonhos e a evocação íntima dos seus afectos familiares, acompanhá-lo na sua paixão pela viagem e pela história dos perdedores”. Para o leitor, trata-se de uma viagem fascinante pelos vários mundos de Sepúlveda, proposta por um amigo e companheiro de jornada.
Também com o selo da Porto Editora, está disponível nas livrarias “O Caçador Descuidado” (Porto Editora, 2023), livro que reúne a poesia de Luís Sepúlveda escrita entre 1967 e 2016. O prefácio desta edição foi entregue a José Luís Peixoto, que escreve que “neste livro, existe uma pessoa. Poema a poema acompanhamos a sua cronologia. Os momentos desse caminho cruzam-se com grandes linhas da História contemporânea”. Para o escritor português, Lucho – como era carinhosamente tratado por muitos – era uma pessoa feita de histórias, que entendia a vida através destas: “Entender a vida assim, é um princípio fundador, uma filosofia”.
Luís Sepúlveda, que disse não querer aceitar os louros de poeta, escreveu que “alguma vez teria de ser eu o exbicionista que abre a gabardine frente às portas do convento”. Essa vez chegou agora, num ano que tem sido de celebração da vida de Luís Sepúlveda. Duas esmeradas edições com o selo da Porto Editora.
Ofícios
Se aprendesse de vez o velho ofício,
ou se recordasse definitivamente
a ciência cabalística
que fizesse com que descobrisse nomes queridos
entre tantos muros que me acossam…
Se aprendesse a escapar
destes frios que ferem a meio do caminho,
de tanto lugar,
de tanta notícia,
que me chega em cada telegrama…
Se aprendesse isto
poderia dizer então
que ainda sonho com árvores povoadas
por pássaros autênticos.
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