A bicicleta, tal como hoje a conhecemos, surgiu em Inglaterra mas, em 1887 e do outro lado do Atlântico, um visionário de nome Albert H. Overman produzia o primeiro modelo com corrente, numa corrida disputada de forma não muito respeitadora com Augustus Pope, o mais bem-sucedido fabricante americano de bicicletas do final do século XIX.
Por esta altura, estarão certamente a perguntar o que poderá ter uma bicicleta a ver com Lucky Luke, o mais rápido cowboy de todos os pontos cardeais no que toca a disparar um revólver, e que percorre o Grande Oeste montado na sela do inseparável Jolly Jumper. Tudo, caro leitor, e a culpa é toda de Mawil, nascido em 1976 em Berlim Leste, que desenhou o seu primeiro Lucky Luke copiando um álbum que a avó do melhor amigo lhe enviou clandestinamente. Após o Muro ter caído, começou a levar os seus próprios comics à loja de fotocópias para os distribuir, paixão que acabou por levá-lo a estudar design gráfico e a entrar no mundo dos comics e da banda desenhada. Apesar de não gostar lá muito de desenhar cavalos, Mawil adora andar de bicicleta, tendo juntado a paixão pelas duas rodas e o fascínio por Luke em “Lucky Luke Muda de Sela” (A Seita, 2020), qualquer coisa como o seu primeiro álbum clandestino oficial de Lucky Luke. Um álbum que presta homenagem a esta figura incontornável da banda desenhada, numa história que mantém viva toda a mística e lhe acrescenta ainda um novo olhar, tanto no argumento como na forma inovadora e pessoal com que Mawil desenha, operando um fantástico trabalho ao nível dos desenhos, das cores e do lettering, num refrescar de uma série lendária que certamente agradará às novas gerações – e também às não tão novas, que celebrarão este novo capítulo sem lamentar a ausência dos Irmãos Dalton.
O espírito altruísta de Lucky Luke leva-o a ajudar o inventor Albert Overman, perseguido por mercenários a soldo de um concorrente das duas rodas, que tentam que este não chegue a São Francisco, cidade onde irá decorrer a maior corrida de bicicletas de todos os tempos. É aqui que Overman pretende apresentar o seu revolucionário modelo de bicicleta, evitando uma falência que parece estar a centímetros.
As circunstâncias e o destino obrigam Lucky Luke a trocar o cavalo pelas duas rodas, numa volta à bicicleta pela pradaria onde contará apenas com a ajuda de um estranho manual, que o ensina coisas tão úteis como reparar um furo. Há também telegramas ao estilo de um romance de espionagem, coca-colas no lugar de cigarros, muitos regulamentos e um lema que serve de carapuça a este intrépido cowboy: “Nascemos e morremos na sela”. Muito bom este segundo volume de uma colecção dedicada a homenagear o cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra – e que sucede a “O Homem que matou Lucky Luke”, também publicado pela editora A Seita.
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