Chegou recentemente às livrarias mais um volume – o décimo – da série As Aventuras de Lucky Luke segundo Morris, intitulado “A Arca de Rantanplan” (Asa, 2022). Pela quarta vez consecutiva, o argumento esteve nas mãos de Jul, ficando os desenhos a cargo de Achdé. Desta vez, o cowboy que dispara mais rápido do que a sua própria sombra vai ser arrastado para Catme Gulch, um lugar que, do lema “Por Montes e Vacas”, irá adoptar um outro, mais virado para a proibição da caça e a adesão (forçada) ao vegetarianismo: “Veggie Town: Penas, Pelos, Chumbo”.
O grande motor para esta aventura dá pelo nome de Henry Bergh (1813-1888) que, no ano de 1866, fundou a Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra os Animais. Chocado com a violência infligida pelos cocheiros de Nova Iorque aos seus cavalos, Bergh dedicou a sua vida a esta causa, patrocinada por um milionário de origem francesa atormentado pelo remorso de ter feito fortuna à custa do comércio de… peles. Milionário que, aqui, dá pelo nome de Ovide Byrde, presidente (e único membro) da Sociedade Protectora de Animais do Condado, que desde cedo tirou as medidas ao tempo: “O faroeste nunca foi um modelo de bem-estar, nem para os homens nem para os animais”.
É precisamente Ovide Byrde que Lucky Luke salva de um linchamento certo, desarmando toda a gente que lhe devolve a indignação com uma nota de humor em tempos de Covid: “E eis que agora nos impõem regras de distanciamento social”. Mas nem só de Ovide se faz a luta pelos animais. Rabanete Ágil, filho mais velho do Águia Intrépida, quebrou todas as flechas para impedir a caça ao bisonte, disposto a mudar a mentalidade da sua tribo. Porém, talvez seja mesmo como alguém diz a certa altura, antes, agora e sempre: “Não creio que os nossos concidadãos americanos estejam preparados para renunciar a ter um bife no prato”.
Há, pelo meio, um bando de bandidos vegetarianos, um Rantanplan transformado em mascote e um Lucky Luke justiceiro que, uma vez mais, ficará com a tarefa de reconciliar todas as partes. O legado de Morris continua em muito boas mãos.
Sem Comentários