“Lendas dos Heróis do Condor 1: Nasce Um Herói” | Jin Yong

Há quem diga que é uma espécie de Senhor dos Anéis chinês, provavelmente para lhe passar um atestado de qualidade. E a verdade é que “Nasce Um Herói” (Asa, 2019), o primeiro volume da série intitulada Lendas dos Heróis do Condor, é um verdadeiro achado para quem gosta de livros onde o mundo é servido através da fantasia – e, neste caso, também das artes marciais.

Jin Young (6 Fevereiro 1924 – 30 Outubro 2018),  o autor – pseudónimo para Louis Cha -, tornou-se um fenómeno literário na China, mas tem prosa suficiente para o ser em qualquer parte do globo. Nem que seja quando a HBO, a Netflix ou outro canal televisivo decidir pegar nos seus livros e transformá-los numa série moderna, que cruze o espírito de telenovela da Guerra dos Tronos com aquilo que poderia ser uma revisitação aos Heróis de Shaolin, série que durante os anos 80 deixou muito jovem de boca aberta e a fazer sons esquisitos com a boca. Só para terem uma ideia, esta sua série wuxia (mix de fantasia e artes marciais) já terá vendido cerca de 300 milhões de exemplares – e não apenas na China.

Como se lê no prólogo muito elogioso assinado por Anna Holmwood, “tudo começa com um contador de histórias que traz notícias do Norte, notícias de derrota e humilhação esmagadoras, de um grande Império Chinês destroçado e em fuga para sul. Tudo comela com uma corte corrupta até ao tutano, disposta a sacrificar o povo chinês às tribos invasoras dos Jurchen, em troca de ouro e de uma oportunidade de fuga. Tudo começa com dois patriotas – dois agricultores autodidatas nas artes marciais – e um taoista decidido a vingar as suas mortes. Tudo começa com dois filhos, ainda no ventre das mães quando os seus pais são chacinados, separados e levados por mãos inimigas, criados muito longe da sua pátria chinesa“.

A viagem épica começa no ano de 1205, quando o Império Song foi empurrado para sul pelo Império Jurchen Jin. Temujin, o grande comandante mongol que mais tarde será conhecido por Gengis Khan, reúne poder e homens nas estepes. A série, composta por doze volumes divididos em epopeias compostas por quatro volumes cada, terminará com a Dinastia Yuan, fundada por Kublai Khan, neto de Gengis Khan, a desintegrar-se enquanto se trava uma luta popular para recuperar a China.

Neste primeiro volume, o leitor irá conhecer personagens tão incríveis e com nomes tão galácticos como Guo Jing, filho de Fúria do Céu Guo e de Lírio Li, Yang Kang, filho de Coração de Ferro Yang e de Caridade Bao, ou os destemidos Sete Excêntricos do Sul, uma família marcial sem laços de sangue composta por: Ke Zhen`e, Repressor do Mal, também conhecido como Morcego Voador, que tem como arma de eleição as nozes-do-diabo voadoras; Mãos Velozes Zhu Cong, o Inteligente, conhecido pelo seu raciocínio rápido e mãos leves; Ryder Han, Protector dos Corcéis, que apesar de ter apenas um metro de altura é um combatente formidável montado a cavalo; Lenhador Nan, o Misericordioso, conhecido pela sua natureza doce e por empunhar o sabre como ninguém; Zhang Asheng, também conhecido como Buda Risonho, um homem corpulento que usa vestes de talhante; Gilden Quan, o Próspero, Regateador Encapuçado, com olho para o negócio; e Jade Han, Donzela da Espada Yue, a única mulher do grupo, treinada na Espada Yue. Ou ainda outros como Dois Ventos Fétidos, Abade Madeira Seca ou Reverendo Madeira Chamuscada.

Quanto às artes marciais, a coisa consegue ficar ainda mais incrível, à boleia de movimentos como Preso do Outro Lado do Rio, Espada da Morte Mútua, Formação de Arado, Palma Quebra-Corações, Garra Esqueleto das Nove Yin ou Gato Ardiloso Apanha o Rato.

Uma história de amizade e honra, de lealdade e sacrifício, épica na forma como atravessa períodos temporais e alimenta a esperança contra a corrupção e as forças invasoras. Uma história sobre o Bem e o Mal, onde temas universais são abordados com muita acção, fantasia e filosofia oriental. Imperdível para os amantes de fantasia.