“1986: Foi um desastre completo logo do início”. Terá sido nesse ano que o Sr. Springfield, “o primeiro e único super-humano do mundo, perdeu o controlo e estava a tentar utilizar os calcanhares como travões”, deixando para trás um rasto de devastação no Missouri, antes de ser detido pelas autoridades na posse de um frasco de comprimidos sem prescrição e com um rótulo onde se lia “KM/H” (G. Floy, 2018). E, apesar de ter mostrado arrependimento, “o primeiro e único super-humano do mundo foi narcotizado, interrogado e encerrado na solitária pelo exército dos Estados Unidos”, permanecendo enclausurado desde então e até ao tempo presente: 2014.
Estamos em Detroit, cidade onde Roscoe, um tipo assim para o ingénuo, tem como plano de vida a curto prazo dealar como se não houvesse amanhã, juntando dinheiro para conseguir sair do buraco em que está metido para, com os amigos do peito, ter uma vida melhor. Porém, depois de um negócio de droga que dá para o torto, Roscoe apanha 15 anos, mas está convicto de que com bom comportamento, à boleia da sobrelotação e chegando-se à frente como voluntário num programa de reabilitação – apesar de nunca ter sido viciado -, sairá em apenas cinco.
O que Roscoe não sabe é que foi tramado pelo Boss Hall, que decidiu tentar a sorte com a namorada alheia – a de Roscoe – e que mais parece um Gustavo Santos do bom dealanço: “O termo aqui é a visualização positiva, e é a tua chave para um novo mundo. O universo está pronto a conceder desejos se estiveres disposto a libertar o poder que todos possuímos”.
No dia em que sai da solitária mais aberto a experimentações, Roscoe mete à boca um frasco com o rótulo KM/H, acabando por se transformar numa espécie de Flash mas com uma moral completamente diferente: “Seja o que for, posso cozinhar num instante ou roubar”. Seguem-se uma série de assaltos a bancos, na companhia da namorada e do melhor amigo, roubando “os ricaços que tinham lixado Detroit, os bancos que tinham cancelado as linhas de crédito, os políticos desonestos, as fábricas que se deslocalizaram”, tendo apenas que respeitar duas regras: nunca ferir ninguém e só abalar os ricos.
Tudo parece correr bem ao trio velocista, preparando de antemão a sua reforma e a mudança para um paraíso fiscal sem poder de extradição, até que o Sr. Springfield entra em cena prometendo ao governo americano a captura dos velocistas assaltantes em troca da liberdade própria.
Com um argumento que acompanha a velocidade supersónica de uma droga marada, “KM/H” é uma história de acção com alguns twists e uma vertente idealista e politicamente incorrecta, onde o leitor dará por si a torcer pelo mau – ou pelo menos um deles – da fita. Cinefilamente falando, estaremos perto daquilo que Neil Burger levou ao grande ecrã com Limitless – Sem Limites na tradução portuguesa.
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