O espírito altruísta tem destas coisas. Depois de se transformar em kaiju para salvar os soldados Ichikawa e Furuhashi, Kafka começou a tratar da saúde ao kaiju mau – ou humanóide, segundo os manuais -, sendo impedido de dar o golpe final com a chegada de outros membros da Força de Defesa. Assim começa o terceiro volume de Kaiju nº 8 (Devir, 2024), mangá escrito e desenhado por Naoya Matsumoto.
Entre eles está o sub-capitão Hoshina, com um poder de combate libertado de 92%, e só depois de muitos cortes no pelo e uma sorte danada é que Kafka consegue fazer o mais acertado: dar de fuga e regressar à aparência humana.
Hoshina considera que o kaiju n.º 8 é na verdade um daikaiju, o que a confirmar-se seria o primeiro em cinco anos. Mas um daikaiju raro, uma vez que “ele não parece ser do tipo que ataca as pessoas indiscriminadamente”. As dúvidas de Hoshina vão muito além do tipo de kaiju, estendendo-se a um território mais dado ao existencialismo e a uma capacidade de adivinhação quase detectivesca: “Em vez de estar a lutar com um kaiju parecia que ele era um ser humano”. Quanto à capitã, não parece muito dada a fenómenos insólitos ou a procedimentos que estejam fora dos manuais, limitando-se a seguir a cartilha militar: “Todos os kaijus devem ser eliminados”.
A viver uma dupla existência, Kafka vai subindo a pulso no ranking, muito à custa dos conhecimentos que foi adquirindo quando esteve responsável pela limpeza dos cenários de guerra: “Tenho quase a certeza de que o núcleo deles fica mais perto da coluna”. E, com isso, vai-se aproximando cada vez mais da capitã Nina, o seu amor de infância que, fazendo um paralelismo cinéfilo, nos transporta para o imperdível “Vidas Passadas”, filme realizado por Celine Song, nomeado ao Oscar de melhor filme.
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