“Diz-me quem te recomenda um livro, dir-te-ei o que vais ler”. Este não é ditado popular, mas poderia bem sê-lo. Se virmos um livro de que gostamos nas mãos de alguém, é como se o livro recomendasse a pessoa. Ter um autor de quem gostamos a traduzir um livro é, também em si, uma recomendação. Foi o que aconteceu com “Juntos” (Porto Editora, 2021), de Luke Adam Hawker, traduzido por Valter Hugo Mãe e com texto original de Marianne Laidlaw.
Neste caso, as imagens valem mesmo mais que mil palavras, pois esta pequena narrativa está pejada de enormes e meticulosas ilustrações, que permitem ao leitor perder-se numa tempestade realista e intimista. Empregar a palavra tempestade, aliás, não é inocente. Foi de forma inesperada e avassaladora, tal como uma tempestade, que esta recente pandemia nos separou, isolou e até escureceu. No entanto, o desenho a preto e branco não lhe retira vivacidade.
Os traços são bem realistas, vivendo paredes meias com outros mais indefinidos ou até aparentemente caóticos que, no seu conjunto, criam um todo, uma multidão que caminha, como que empurrada e sem perceber em que direcção – mas que caminha e avança. Especialmente na busca de saídas e respostas, que não sejam apenas esperar mas, antes, que tragam a capacidade de resignificar. De aprender a olhar de outra forma, mais de perto e para dentro, numa proximidade contraditória com os conselhos sobre distância.
“Algumas nuvens negras assomaram ao longe.
Vimo-las juntarem-se e pensámos…
Quando virá? Quando durará?
É duro não sabermos todas as respostas.”
Como quem procura a melhor resposta, estudando perspectivas, o leitor poderá demorar-se em cada página, em cada desenho, reparando em detalhes do quotidiano que pautou o tão debatido “novo normal”, identificando preciosidades de uma sociedade que, por momentos, perdeu o rumo e se refugiou no medo.
“Muitos descobriram que temos mais tempo do que julgávamos. O tempo oferece-nos ideias que podemos plantar como sementes, e dá-nos a calma para nutri-las e vê-las crescer“. Mesmo a preto e branco, há um jogo de luz digno de aplauso, de onde parece surgir a esperança. Caberá a cada um perceber onde fica essa sua luz, senti-la, partilhá-la e enviá-la a quem dela precisa.
Sem Comentários