No universo televisivo, há muito boa série independente que, antes de avançar sem medo para o território das temporadas, tem primeiro de passar pelo escrutínio do episódio piloto. Um campo de testes que serve, sobretudo, para avaliar se tem ou não substância para gerar audiências. No universo dos quadradinhos impressos, Jujutsu Kaisen, a série de mangá escrita e desenhada por Gege Akutami, teve também o seu número zero. Intitulado “Escola de Jujutsu de Tóquio” (Devir, 2023), chegou às livrarias nacionais com o selo da Devir, já depois de terem sido publicados alguns números desta série que chegou a bom porto – à impressão, neste caso.
No posfácio, o autor confessa que “quando terminei estes quatro capítulos do volume 0 não tinha como objectivo publicar semanalmente na Jump”. Com a aceitação dos leitores, Akutami atirou-se então à série, tendo este livro saído depois como uma prequela que até poderia ser olhada como uma edição de coleccionador. “Uma forma de os adultos resolverem os seus problemas”, escreve com humor – humor que é uma das emoções dominantes desta série.
A estrela – ainda que pouco brilhante – deste número 0 dá pelo nome de Yuta Okkutsu, uma criança de 16 anos admitida, não sem alguma controvérsia, na Escola de Jujutsu. “Não sabemos quem poderá matar com a sua maldição”, ouve-se um pouco por todo o lado. Não há muito tempo, Okkutsu quase matou 4 alunos que sobre ele exerciam bullying, tentando de seguida suicidar-se. Um acontecimento que serve para que o autor, em jeito de nota de rodapé, nos dê um vislumbre do que poderemos contar nesta série, referindo as muitas mortes e desaparecimentos que anualmente têm lugar no Japão, “na maioria vítimas de maldições que surgem das energias negativas dos humanos. Ou casos ligados a feiticeiros malvados”, para rematar que “apenas uma maldição consegue enfrentar outra maldição”. A sua entrada na Escola foi conduzida por Satoru Gojo, um professor de Jujutsu que parece não dispensar uma venda sobre os olhos.
Os companheiros de estudo de Yuta Okkutsu são, no mínimo, originais: ZennZenin Maki, utilizadora de armas amaldiçoadas; Inumaki Toge, encantador de maldições e possuidor de um vocabulário limitado e circunscrito a ingredientes de Onigiri; e… um Panda falante (ficamos por aqui, o resto só mesmo lendo).
“Quero ter confiança em mim e pensar que é bom viver”. É este o desejo de Okkutsu, cuja maldição dá pelo nome de Rika-Chan, que morreu com 11 anos e a quem Okkutsu terá impedido de partir totalmente: “Não existe maldição mais distorcida do que o amor”.
No centro da trama deste número zero está Geto Suguru, um dos quatro feiticeiros de nível especial, que promete lançar, a 24 de Dezembro em estilo de prenda envenenada, mil maldições sobre Tóquio e Toronto. A Missão Impossível será entregue à Escola de Jujutsu, restando pouco tempo a Yuta Okkutsu para se tornar no Tom Cruise de que todos precisam. Para quem já acompanha a série Jujutsu Kaisen, este número será como um capítulo secreto de uma história que já vai com um bom avanço; para os restantes, provavelmente o primeiro de muitos livros que comprarão desta série.
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