Muitos são aqueles que, no seu dia-a-dia feito de preocupações mundanas, se divertem a imaginar como seria se tivessem acesso à conta bancária do Homem de Ferro ou do Batman, ou se tivessem a sorte de serem picados por uma aranha radioactiva que permitisse subir ao último andar de um arranha-céus pelo lado de fora e sem ter de usar o elevador. Jessica Jones, porém, preferiu percorrer o caminho inverso, atirando às urtigas com os seus poderes que, ainda que pudesse ser considerados corriqueiros ao pé de malta como Os Vingadores, ainda davam para brilhar diante dos comuns mortais.
Arrumado o heroísmo, Jessica Jones é agora uma alcoólica com um sentido de auto-destruição apurado, dona e única empregada das Investigações Alias, uma pequena empresa de investigações privadas especializada em casos de super-heróis – dá para ver a ironia? Uma ocupação que, de acordo com os poucos clientes e a recorrente polícia, é um “trabalho de merda”.
Palavrões como este anterior são, aliás, recorrentes em “Jessica Jones: Alias – Volume 1” (G. Floy, 2019), que arranca desde logo com um texto onde Jeph Loeb – entre outras coisas o vice-presidente executivo da produção para o formato televisivo da série Jessica Jones – justifica começar o livro com um audível e repetitivo “Foda-se”: “Bendis faz uso da palavras tal como elas devem ser utilizadas numa história desta natureza – como balas incandescentes que trespassam a nossa imaginação e lá permanecem alojadas até ele decidir operar-nos…”.
Na mesma onde de um policial noir escrevinhado por Raymond Chadler, este primeiro volume de uma nova série vê Jessica Jones aceitar o caso do desaparecimento da irmã de Miranda, que, apesar de não morrer de amores pela irmã, prefere saber por onde esta anda. Na investigação do caso, Jessica acaba por gravar inadvertidamente um encontro onde dá conta da identidade de um famoso super-herói, acabando por ver a sua vida em risco.
Com um humor ácido, um charme durão , algumas garrafas despejadas e uma língua sempre afiada, Jessica fará jus ao seu epíteto de detective-psicóloga, encontrando pelo caminho malta fixe como o Demolidor ou o sidekick do Hulk. E, claro, acabando tudo como começou: com um sonoro palavrão.
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