(Textos breves sobre livros lidos em 2020)
“1984 – A Novela Gráfica” | George Orwell e Fido Nesti
Editora: Alfaguara
Adaptação a novela gráfica de “1984”, o clássico distópico de George Orwell originalmente publicado em 1949 e que, com o tempo, se veio a revelar assustadoramente profético. Uma adaptação muito bem desenhada pelo brasileiro Fido Nesti, que dá aqui imagem ao negrume profundo de Orwell, num lugar onde o passado está morto e o futuro é inimaginável. Winston Smith, com 39 anos e uma úlcera varicosa acima do tornozelo direito, guia-nos por entre uma Londres cinzenta e dominada pela Polícia do Pensamento, que tudo vigia através de câmaras na rua e dos telecrãs colocados em todas as casas, cujo volume pode ser regulado mas nunca desligado por completo. Há, ainda assim, um recanto onde Winston prova o sabor da liberdade, decidindo escrever um diário contestatário para um futuro leitor, e que acaba por levá-lo à sublevação perante o Pai Nosso Orwelliano: Guerra é Paz. Liberdade é Escravidão. Ignorância é Força. Ámen, Mr. Orwell.
“Naruto 36: O Esquadrão 10” | Masashi Kishimoto
Editora: Devir
O Ninja mais traquina do planeta chega ao volume 36 (!), trabalhando com afinco e à boleia de muito Ramen para se tornar no maior ninja do planeta. Para isso terá de criar clones como se não houvesse amanhã, com o objectivo quase utópico de conseguir combinar duas técnicas aparentemente inconciliáveis: o “modificador da natureza” e o “modificador da forma“. Um livro onde se desenrola um jogo estratégico à volta da ideia de que a dor infligida a um será sentida pelo outro, e que serve as últimas palavras de um mestre na melhor das despedidas à vida.
“Soldados de Salamina” | Javier Cercas e José Pablo García
Editora: Porto Editora
Adaptação gráfica por José Pablo García, um dos autores de banda desenhada espanhóis mais reputados, do já clássico romance “Soldados de Salamina”, escrito por Javier Cercas e publicado originalmente em 2001. Um mergulho na História e na história de Rafael Sánchez Mazas que, nos dias finais da guerra civil espanhola, conseguiu escapar com vida – e uma sorte danada – a um fuzilamento de prisioneiros franquistas, tudo graças a um jovem soldado republicano, Mazas que acabou por ser o fundador da Falange e ministro de Franco. Um livro que é, também, sobre o processo de escrita e um relato pessoal da indecisão e angústia que rodeou Cercas durante a sua criação, onde há ainda espaço para uma entrevista a Bolaño e uma conversa inesquecível sobre super-heróis. As ilustrações são incríveis e desenhadas a dois tempos, onde o passado surge num azul fotográfico esbatido e o presente, esse, se faz de todas as cores.
“Stumptown Volume Um” | Greg Rucka e Matthew Southworth
Editora: G. Floy
Escrita por Greg Rucka, um dos grandes nomes do policial, esta série foi nomeada para um Eisner, tendo servido de base à série de TV Stumptown, da ABC, que contou com Coby Smulders no papel de Dex Parios. Dex é uma detective desbocada, atrevida e corajosa, que se esconde sob o nome de Stumptown Investigations e mostra ser uma investigadora privada com muito talento. Foi, porém, apanhada numa maré de azar, que a deixou com uma dívida considerável para com o casino das Tribos Confederadas da Costa do Vento, gente que não é para grandes brincadeiras. A salvação surge quando a directora do casino se mostra disposta a perdoar a dívida se Dex descobrir o paradeiro da sua neta desaparecida. As ilustrações revelam um fantástico jogo de cores e uma profunda atenção ao detalhe, num universo que poderia ser o de Philip Marlowe se este usasse um vestido – ainda que Dex prefira um look menos dado a feminices. Para o final há dossiers com várias preciosidades, como artefactos de Stumptown – coisas e bugigangas para ajudar a promover e a vender o livro -, uma história de 8 páginas criada como um minicomic, impresso do tamanho de um cartão de visita e embrulhado com uma lupa, designs para T-shirts, o print de uma apresentação para uma exposição e outro para uma sessão de apresentação na Comic Con 2010 e um fragmento das páginas amarelas desta cidade. O volume dois está já disponível nas livrarias.
“A Arte da Guerra – Novela Gráfica” | Sun Tzu e Pete Katz
Editora: Vogais
Não se lhe conhecem quaisquer fotografias ou desenhos, mas diz-se que Sun Tzu terá vivido entre os séculos VI e V a.C, pouco se se sabendo sobre este chinês que, nos tempos modernos, é ainda considerado um dos grandes estrategas que pôs os pés no planeta. Pensa-se que terá sido conselheiro militar ou general de Ho Lu, rei de Wu, para quem terá escrito este “A Arte da Guerra”. Um livro que, com máximas como “a invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque”, parece evocar, em certos momentos, um Yoda oriental, e que hoje em dia tem sido vendido como um livro estratégico com o espírito motivador e da auto-ajuda, com máximas e reflexões que poderão ser encaixadas em qualquer situação de confronto, seja no desporto, no amor ou na política. Uma adaptação ilustrada de Pete Kantz que recria na perfeição cenas de batalha e cenários estratégicos.
“Lucky Luke: Um Cowboy no Negócio de Algodão” | Achdé e Jul (segundo Morrris)
Editora: Asa
Deixou o tabaco mas nem por isso perdeu o gosto pela aventura. De férias em Nitchevonada, que segundo o dialecto cherokee significa “arganaz adormecido na languidez da noite“, Lucky Luke cruza-se com Bass Reeves, um “xerife negro” com o estatuto de melhor Marshall a oeste do Mississípi, que conduz os Dalton rumo a mais uma estadia prisional e trata de anunciar a Lucky a boa/má nova: é um dos homens mais ricos de toda a Luisiana. Uma herança atribuída pela desconhecida Constance Pinkwater, que coleccionava as narrativas de Luke publicadas na imprensa, e que fez dele o improvável proprietário de uma das maiores plantações de algodão, lançando-o num confronto com um lugar que ainda não deixou para trás a escravatura e o racismo. Um livro que é também uma homenagem a Bass Reeves, que ao longo da sua carreira heroica prendeu mais de 3000 foras da lei, e a todos os cowboys negros e hispânicos da História, esquecidos pela indústria de Hollywood.
“Os Cinco Voltam à Ilha” + “Os Cinco e os Contrabandistas” | Béja e Natael
Editora: Oficina do Livro
Béja e Natael continuam a servir-nos, em tiras bem coloridas e expressivas, as aventuras criadas por Enid Blyton para este grupo de amigos intrépidos, conhecidos como Os Cinco, que procuram estar sempre metidos numa grande aventura. Nestas duas missões – os números 3 e 4 da nova colecção com o selo da Oficina do Livro -, o gangue foge à antipática senhora Stick, encarregue de tomar conta da casa dos Kirrin durante a forçada ausência da mãe da Zé, e viajam até à “sua” ilha de Kirrin, cedo percebendo que não estão sozinhos naquele paraíso – “Os Cinco Voltam à Ilha”; e passam as férias da Páscoa instalando-se no Monte dos Contrabandistas, junto à sinistra Ilha do Desterro, onde fenómenos estranhos e de ar paranormal acontecem diariamente – “Os Cinco e os Contrabandistas”. Uma introdução em formato de banda desenhada a um clássico dos clássicos da literatura juvenil.
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