Comecemos, de novo, pelo mais importante. De entre as séries escritas por Sarah. J. Maas, Trono de Vidro é de todas a mais entusiasmante, misturando o espírito novelesco de A Guerra dos Tronos com a capacidade inventiva de J.R.R. Tolkien movido a Red Bull.
Uma série que tem alimentado, também, o envolvimento dos fãs, que vão sugerindo formas alternativas de leitura à ordem cronológica. “A Lâmina do Assassino” (ler crítica), que reúne cinco contos sobre o passado de Celaena Sardothien e seu desenvolvimento como assassina, deu origem ao primeiro debate. Se, para alguns, este deve ser lido antes da série para criar ambiente, outros sugerem a sua leitura entre “Herdeira do Fogo” e “Rainha das Sombras”, havendo quem sugira a sua leitura após a conclusão deste último. Só para lançar a confusão, há quem diga que poderá ser lido no final da série, como um digestivo depois de sete pratos principais.
O segundo debate surgiu à volta dos livros “Império de Tempestades” (Marcador, 2024) e “Torre da Alvorada” (Marcador, 2024), respectivamente o 5º e 6º volumes da série. Isto porque, ao contrário dos volumes anteriores, estes decorrem na mesma linha temporal, acompanhando a saga paralela de diferentes personagens. Há mesmo quem apresente a sugestão de uma ordem de leitura (espreitar aqui), que faz com que o leitor vá saltando de livro em livro para nunca perder o pé na linha temporal. Por aqui decidimos manter a leitura na ordem cronológica, mas cabe ao leitor decidir qual a abordagem a estes dois volumes que continuam a servir fantasia de excelência.

“Império de Tempestades” tem início com uma viagem do tempo, contando-nos mais um episódio sobre a história de Elena e Gavin, que envolve um sacrifício no desejo de que melhores tempos se aproximem num futuro distante – futuro esse que se joga agora, como se de uma partida de xadrez se tratasse.
Elide, agora liberta do papel de escrava, principia a sua demanda em busca de Caelina, para lhe entregar a pedra negra que lhe foi depositada por Kaltain, uma pedra capaz de abrir qualquer porta. Na sua peugada segue Lorcan Salvaterre, um meio-Fae que tem também o seu próprio plano: pôr as mãos nas em duas das Wyrdkeys, “irmãs da que usava numa longa corrente ao pescoço”.
Enquanto avalia possíveis alianças, lidando com a desconfiança dos senhores de Terrassen – que a olham como uma princesa mas não rainha -, Aelin depara-se com um cenário de guerra já bem montado. Seguindo na direcção do antigo curso da floresta de Oakwald e de Morath, prepara-se para enfrentar um Erwan renascido, que aguarda tranquilamente com uma hoste de bruxas Dentesdeferro e o poder da infantaria de soldados Valg.
É mais um grande volume desta enorme saga, onde se conta a história de Erawan, se assiste à consumação de Lysandra como metamorfa e se partilham os dilemas de Dorian sobre ser rei, após herdar “um trono destruído e uma fortaleza vazia”. Assistimos ao regresso dos mycenianos, que “tinham em tempos governado Ilium não como nobreza, mas como senhores do crime”, até serem exilados quando se recusaram ajudar Terrassen numa outra guerra. Somos apresentados a Petrah, a herdeira Sangueazul, mística, fanática e com uns olhos azuis que disparam sinais de aviso. Damos um salto às Ilhas Mortas, tentando transformar piratas em corsários. Ou conhecemos, a dado momento, a origem do estranho e útil mapa de Rolfe, e o pesado preço que este teve de pagar. O final é mais uma vez surpreendente, reafirmando Sarah J. Maas como uma escritora a quem não faltam mangas para esconder os ases.

“Torre de Alvorada” acompanha a viagem de Chaol ao território dos impenetráveis e orgulhosos Khagan, na companhia de Nesryn, a recém-nomeada Capitã da Guarda e sua amante ocasional, com a missão de completar duas tarefas: “convencer o khagan e os seis potenciais herdeiros a emprestarem os seus consideráveis exércitos para a guerra contra Erwan” e “encontrar um curandeiro na Torre Cesme que conseguisse descobrir uma forma de o fazer andar novamente”.
Para além de Chaol e Nesryn, que a certa altura empreenderão o seu próprio trilho a caminho da auto-descoberta, temos personagens tão fascinantes quanto Irene Towers, uma curandeira que verá o seu altruismo ser posto à prova quando é designada a curandeira de Chaol, o homem que comandou os soldados e a sua Guarda e destruiu Aldarlan e as suas gentes – como a família de Irene.
Há aranhas, criaturas voadoras, portões para abrir e chaves para encontrar, em mais um final que nos serve uma revelação seguida de uma história que merecia, por si só, um conto ilustrado para adultos. O desfecho de Trono de Vidro será servido em “Reino de Cinzas”, o sétimo volume já disponível nas livrarias.
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