palavra lê
paisagem contempla
cinema assiste
cena vê
cor enxerga
corpo observa
luz vislumbra
vulto avista
alvo mira
céu admira
célula examina
detalhe nota
imagem fita
olho olha
André Gardel, Doutor em Literatura Comparada, autor de “O Encontro entre Bandeira & Sinhô”, poeta e compositor de música popular, definiu Arnaldo Antunes como “o pedagogo da estranheza“, capaz de emprestar múltiplos significados e de gerar um insólito e divertido movimento entre as palavras.
Pegando na letra de “Imagem” (Planeta Tangerina, 2016), incluída no CD “Nome” do brasileiro – que, com Marisa Monte e Carlinhos Brown criou os Tribalistas -, Yara Kono deu corpo à ilustração, transformando a palavra escrita num poema visual.
Na letra original, uma coluna de versos substantivos é posta diante de uma coluna de versos de verbos, possibilitando combinações insólitas e inesperadas. Aqui, as palavras são ainda mais livres de viajar, criando Yara uma casa ou lugar onde cada uma delas pode permanecer, nem que seja de forma fugaz.
Pela mão de Yara Kono assistimos ao mandamento através dos verbos, viajando do grande plano – o céu – ao mais ínfimo detalhe, seja este dado pelas sardas de um rosto ou o desconhecido que nos é revelado através do microscópio. Para cada palavra uma acção, ilustrada com traços, círculos e muita geometria, em páginas imperfeitas de cor esbatida, dando a ideia de um decalque onde alguma da tinta ficou agarrada ao papel de transporte. Mais um festim de ilustração servido por Yara Kono.
Para complementar o lado visual do poema, ouçam aqui uma leitura musicada do poema pelo próprio Arnaldo Antunes.
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