Longe vão os tempos em que a pequenada, ávida de desenhos animados para passar o tempo e gozar as férias, se entretinha miseravelmente com o que era servido entre o primeiro e o segundo canal, numa altura em que, do Pequeno Marco ao Bell e Sebastião, tudo parecia impregnado de uma estranha melancolia e tristeza.
É certo que, muito antes da chegada dos privados e dos canais estrangeiros por cabo – que agora até já os vão servindo dobrados -, houve coisas como Conan, o Rapaz do Futuro, um verdadeiro meteorito animado vindo do universo nipónico. Ou, já quando os canais eram mais do que dois, Ren & Stimpy, talvez a primeira coisa verdadeiramente absurda e incrível que passou num pequeno ecrã nacional no que toca à animação com largos índices de parvoíce.
Hoje em dia, anos passados sobre o momento em que praticamente todos os lares dobraram o cabo televisivo, não faltam séries capazes de entreter a pequenada ao mais alto nível, desde os já clássicos The Simpsons ou Family Guy a outros mais estranhos e surreais como Phineas and Pherb, O Incrível Mundo de Gumball, ou o delirante Hora de Aventuras que, pela mão da Devir, chega agora às livrarias em formato de banda desenhada: “Hora de Aventuras – volume 1” (Devir, 2016).
Para aqueles que ainda não deitaram os olhos a esta animação, talvez seja melhor começar por apresentar os cérebros responsáveis por esta brincadeira: a história é de Ryan North, autor de Dinosaur Comics; quanto às ilustrações, são da dupla Shelli Paroline e Braden Lamb, que juntos animaram também “A Idade do Gelo”. E, para aguçar ainda mais o apetite, uma das histórias paralelas deste volume está entregue aos desenhos de Mike Holmes, um dos grandes responsáveis pela maior trilogia de animação cinéfila: Toy Story.
Neste primeiro volume viajamos até à Terra de Ooo, onde Jake – o cão -, Finn – o humano -, a Princesa Chiclete e Marceline – mais conhecida como Rainha dos Vampiros – tentam impedir que Lich, um maléfico e muito aterrador tipo a dar para o esquelético, sugue todos os reinos para dentro de um saco onde parece caber tudo lá dentro (quem se lembra do Sport Billy?).
Paralelamente vamos assistindo à história de Bemo, um computador que sonha ser um grande lutador. E que parece ser um especialista nas bocas de batalha, tiradas como “têm de pensar nos murros que gostavam de dar e transformá-los todos em palavras!”
A transposição do pequeno ecrã para o mundo das tiras foi exemplar, estando reunidas todas as características que fazem desta série uma das mais cativantes do momento: uma grande dose de surrealismo, um humor muito próprio, desenhos carregados de cor e expressão. E, também, histórias que abraçam a ideia de contracultura, e que transcenderam o público infantil para se tornarem num sério caso de culto entre muitos graúdos.
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