É caso para dizer que, em receita vencedora, o melhor é manter a composição da fórmula. Foi o que fizeram Francesca Cavallo e Elena Favilli que, depois de um sucesso que se estendeu a muitos países do globo, lançam agora “Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes 2” (Nuvem de Tinta, 2018), segundo volume de um livro – ou melhor, série – que tem como grande missão a igualdade, falando-nos de mulheres que, com a sua rebeldia, inspiraram outras a acreditar num mundo onde as questões de género não passem de uma mera nota de rodapé.
Entre desconhecidas e consagradas, não faltam aqui mulheres inspiradoras: Agatha Christie, a romancista que mais livros vendeu até hoje, a criadora dos inesquecíveis Poirot e Miss Marple, que tinha um curioso processo criativo: “A melhor altura para planear um livro é quando estamos a lavar a loiça“; Anne Bonny, pirata dos sete costados, que se vestia “como um maltrapilho, era dura e costumava dar-se com piratas nas tabernas do porto“, levando na ponta da língua um lema muito castiço e desafiante: “Sigam-me por vossa conta e risco“; Audrey Hepburne, que para além de actriz foi também uma activista da UNICEF; Beatrix Potter, escritora e ilustradora, que numa carta inventou “uma história sobre um coelho maroto que usava um bonito casaco azul e roubava legumes do jardim do vizinho agricultor, que o perseguia” – a história do Pedrito Coelho; Billie Jean King, que encabeçou a luta pela igualdade dos prémios monetários recebidos por tenistas homens e mulheres, e que desafiou Bobby Roggs, um tenista que proclamava que “o lugar das mulheres é na cozinha, não no campo de ténis“, para uma partida histórica que ficou conhecida por Batalha dos Sexos; as Black Mambas, guardas-florestais que travavam os caçadores-furtivos na África do Sul; Vivian Maier, uma ama que era fotógrafa em segredo e que, em vida, tirou mais de cem mil fotografias – e que, como muitos artistas, apenas alcançou o reconhecimento após a sua morte; Mata Hari, que “dançava com a graça de um animal selvagem, usava trajes reduzidos, um sutiã com jóias incrustadas e meias cor de pele“, e que se veio a tornar uma mestre na arte do disfarce; ou Mary Shelley, que inventou a personagem de um cientista louco que constrói um monstro a partir de pedaços de cadáveres e lhes dá vida usando electricidade.
As ilustrações usam e abusam da cor, variando nas técnicas – há quase caricaturas, registos em tom fotográfico ou piscares de olho à pop art – consoante a época e as mulheres retratadas. Mais anti-princesas do que isto será difícil de encontrar.
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