A primeira coisa que se faz quando se está a preparar uma viagem, ou mesmo a escolher o destino, é pesquisar o máximo de informação possível acerca do mesmo. Procuram-se relatos em blogs de viagem, guias turísticos, em tudo o que possa ajudar a descobrir mais sobre o local em questão e criar um bom roteiro.
Michael Palin veio ajudar nesta questão. Mais conhecido por ser um dos membros do grupo de comédia Monty Python, o comediante, actor, escritor e apresentador começou a relatar as suas viagens em 1980. O primeiro documentário de viagens foi pelo Reino Unido e integrou a série da BBC ‘’Great Railway Journeys of the World’’. A partir de 1989, Palin começou a apresentar vários documentários na BBC sobre as suas expedições e escreveu, posteriormente, livros sobre as mesmas, onde revelou aspectos e informações que não tinham sido incluídos nos programas. “Himalaias” (Bizâncio, 2016), que em sânscrito significa “Casa da neve’’, é o seu trabalho mais recente, recaindo sobre uma viagem que passou por vários países da Ásia.
‘’Todos os elementos que me atraem nas viagens estavam aqui presentes. O estímulo (…) de trabalhar nos extremos, o desbravar de novos territórios (…) e ver como se vive a vida numa mistura fascinante de países…’’
Nesta jornada que durou 125 dias, Palin apresenta-nos uma perspectiva sobre 6 países completamente diferente daquela que se, normalmente, se encontra nos meios convencionais. Com início no Paquistão, a viagem continuou pela Índia, o Nepal ou a China – que se iniciou pelo Tibete, continuou pelo Butão e terminou no Bangladesh.
Palin cruzou – e ultrapassou – fronteiras, privou com povos que vivem em condições extremas e isoladas, encontrou culturas antigas, conheceu habitantes locais e estrangeiros em viagem, participou em cerimónias tradicionais e em encontros com altas patentes dos governos e figuras icónicas – na Índia teve uma breve reunião com o próprio Dalai Lama e, no Nepal, teve o prazer de privar de privar com o Rei como com os rebeldes maoístas. Assistiu ainda a desportos com touros e a situações de doença que derrubaram a equipa que integrou a viagem.
Se ficou seduzido e pretende fazer o mesmo percurso que Palin, é preciso estar ciente de que irá encontrar alguns obstáculos: para além de serem culturas diferentes em todos os países – e particularmente em relação ao ocidente –, é feita a referência, ao longo da narrativa, da forte presença militar nas fronteiras e das relações estáveis mas tensas dos países entre si, nomeadamente as ligações ásperas entre a China e Tibete.
Ordenado de forma cronológica, “Himalaias” pode facilmente ser definido como um diário de bordo: a cada capítulo corresponde um país e, cada país, tem uma contextualização histórica, política e cultural muito interessante. O percurso foi feito maioritariamente de comboio ao longo da Cordilheira dos Himalaias, proporcionando paisagens deslumbrantes e singulares, tanto a Michael Palin como, por inerência, ao próprio leitor. No entanto, para quem não está familiarizado com os territórios – e apesar das oito páginas de fotografias da autoria de Basil Pao -, será difícil não parar a leitura a cada duas páginas para fazer uma breve pesquisa sobre os lugares ou construções que são mencionados.
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