És fã de terror, gostas de banda desenhada e andas à procura de uma série capaz de tornar o teu dia num lugar negro e reconfortante? Pois bem, Harrow County será, decididamente, a tua cena. Escrita por Cullen Bunn e desenhada por Tyler Crook, esta é uma daquelas séries que vai até ao osso, negra como o breu, com uma escrita pulsante e uma arte incrível que fazem, de cada volume, uma viagem única mas felizmente repetível.
“Abandonado” (G. Floy, 2019), o quinto volume da série, é quase um livro de época, regressando muito atrás na linha temporal para, nas palavras d`O Abandonado, aquela figura trágica, enorme, ameaçadora e de olhos amarelos, nos contar a história da família, da qual fizeram parte, nesses primeiros dias, Manaryllis, “a mais poderosa de todi nós”, e Malachi, “um dos primêros”, aquele que criou a lei e que mais sofreu nesses tempos antigos. E que, possuído pelo espírito da invenção, acabou por criar os seus próprios monstros, largando-os como uma bomba no mundo.
Malachi sabia que os seus filhos nunca seriam humanos, “mas não deixava de os moldar esperançoso, sonhador”. Hester, uma dessas criações, que se veio a tornar na irmã mais nova do rebanho, acabou por acolher demasiada mágoa e raiva dentro dela, pertencentes ao seu criador. Um criador que se transformou num monstro, vagueando outrora na terra como um homem, patriarca de uma família de criaturas de outro mundo – uma família que acabou por atraiçoá-lo.
Caberá à intrépida Emmy continuar a conhecer mais visitantes chegados do exterior, escavando em busca de mais segredos do seu passado e das suas raízes. Segredos que envolvem canibalismo, reencarnação e uma revelação ao nível de Jeckyl & Hyde.
Ao nível da ilustração, este quinto volume é um portento, com variações de estilo, de traço e da utilização de cores. Ao final trepidante, segue-se ainda um caderno de esboços comentado, que inclui um texto sobre o processo de trabalho criativo. Bem bom.
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