“Hans – Sob o Peso das Rodas” (Dom Quixote, 2024) é uma história triste, escrita de forma bela pelo Nobel da Literatura Hermann Hesse. Hans é um jovem cheio de sonhos e ambições, que aos poucos começa a ceder à pressão da vida e da sociedade adulta, enfrentando a tensão de um sistema de ensino exigente e elitista que levará à destruição do seu espírito jovem.
Destacando-se desde cedo entre os demais pelas suas capacidades e inteligência, Hans é dos poucos que conseguirão realizar o exame que o levam a ingressar no seminário. De forma a preparar-se o melhor possível para conseguir superar-se a si mesmo e aos outros, dedicará a maior parte das férias ao estudo, vendo a sua infância desvanecer-se por entre os dedos, os seus gostos a deixarem de ter importância, a conformidade e a resignação a tomarem conta do seu ser.
Já no seminário conhecerá muitos outros jovens, todos com potencial mas muito diferentes entre si. Tornar-se-á amigo íntimo de Hermann Heilner, jovem rebelde que sobressai entre os demais por não querer ficar cingido às normas e ao que esperam de si, encarando o presente e o futuro de forma mais liberal, o que fará com que Hans fique dividido entre a completa dedicação a uma vida sem sabor – que lhe permita corresponder às expectativas – e a abertura às muitas possibilidades que esta encerra.
Regressado a casa após ter defraudado as expectativas colocadas sobre si, deixa então de ser um objecto de interesse, trilhando o seu caminho enquanto aprendiz de mecânico, lentamente esmagado “sob o peso das rodas”.
Em parte autobiográfica, esta história centra-se nas dificuldades enfrentadas quando as expectativas são demasiado altas, principalmente num contexto educacional assente num sistema bastante rígido. A obra acaba por mostrar as grandes surpresas e alegrias que se podem experienciar, mas também o que de mais amargo pode ser trazido pela vida e pelas próprias conquistas, principalmente quando se mostram capacidades desde tenra idade. A crítica de Hesse é essencialmente dirigida ao sistema escolar e aos adultos e profissionais, que pressionam os estudante ao invés de os deixarem explorar o mundo de forma mais livre e solta. Ainda assim, o autor mostra que a vida tem muito de belo a ser aproveitado, guardando a crítica para aqueles que tentam forçar a ideia de que a vida, para lá de um poema belo, terá de garantir um diploma preenchido.
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