Depois de “Troca-Tintas” (ler crítica), um hino à imaginação espremido com muito humor e ainda mais nonsense, Gonçalo Viana volta a publicar em nome próprio, agora pedindo que “Haja Paciência” (Orfeu Negro, 2023).
Gonçalo Viana, provavelmente devido à sua formação como arquitecto, parece ter sempre presente o sentido da espectacularidadde, bem como um toque especial para trazer o fantástico para dentro da realidade – como regar as plantas com um secador de cabelo.
Um velhote sente a presença do leitor. Pousa o jornal e decide, como se essa fosse a sua missão, contar-nos uma história. De certa forma, sente-se azarado por morar num livro de histórias, e já está farto de desempenhar sempre os mesmos papéis, seja o do narigudo Pinóquio ou o da semi-descalça Cinderela. Decide então mudar de vida, estante e prateleira, mas foi como andar de cavalo para burro: acabou a viver num bairro colorido e movimentado, quando tudo o que queria era morar num dicionário: “um sítio sossegado e com muitas páginas, escondido entre duas palavras”.
Gonçalo Viana serve-nos uma anti-história com várias histórias e personagens lá dentro – da bruxa da casa dos Grimm à Capuchinho Vermelho -, na qual o leitor é também convidado a desempenhar um papel.
As ilustrações, sempre com um toque especial para a geometria, o amor pela arte moderna e o uso incontido da cor, voltam a dar cartas, assim como é de realçar o traço com que nos apresenta os objectos do quotidiano, seja uma tomada eléctrica, um calendário de parede ou algumas capas de revista. Um mundo que surge ao nosso olhar como um divertido parque de diversões, virado do avesso, como nas histórias que valem a pena.
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