Pode dizer-se que, em Portugal, o trabalho do francês Christopher Blain tem passado ao largo. Os poucos vislumbres foram dados com “Isaac, o Pirata”, uma série iniciada pela Polvo que não chegou a bom porto, e com a estreia nas salas de cinema de “Palácio das Necessidades”, cujo argumento foi baseado na BD “Quai d`Orsay, chroniques diplomatiques”. Um silêncio que se viu quebrado já este ano, pela Gradiva, que avançou com a publicação de “Gus 1: Nathalie” (Gradiva, 2021). Um original de 2007, então publicado pela Dargaud, a que se seguiram mais três volumes: “Beau Bandit” (2008), “Ernest” (2008) e “Happy Clem” (2017), este último com direito a uma edição extra a preto e branco.
De acordo com Sérgio Sousa Pinto, que assina prefácio de “Nathalie”, “verdadeiro sucessor do incomparável Lucky Luke, Gus constitui a melhor homenagem ao génio gráfico de Morris”. Uma homenagem que se faz com a criação de um herói bem mais travesso que Lucky Luke, que parece estar condenado ao lado mais desventuroso do amor num western com muito sentimento, humor negro e a tragédia sempre à espreita.
Nos tempos em que fazia parte da trupe do Wild West Show, Gus conhece Nathalie, que se vai mudar com o noivo para o Oeste, mas que quer manter o contacto com Gus, que vai experienciando um amor a conta-gotas feito de encontros furtivos e chamadas de longa distância. Enquanto isso não acontece vai vivendo de assaltos a diligências, onde mostra ter o espírito de um Tom Cruise do Oeste com pouco apetite por bancos: “Os bancos não saem do sítio. Isso angustia-me”.
Os seus companheiros de aventuras dão pelo nome de Gratt, um louro de cabelo comprido e dotes de cantor, e Clem, assaltante e homem de família, que parece ter planos para deixar para trás a má vida. Antes disso, porém, viaja com Gus e Gratt até “uma cidade onde todas as gajas são livres”, mesmo que depois a realidade se assemelhe mais a uma ladie’s night onde só pareçam haver gajos. Um lugar que leva à letra o espírito “o que acontece em Vegas fica em Vegas”, e no qual a sorte grande sairá de forma algo improvável a Clem, que mostra ter uma agenda paralela bem sumarenta escondida dentro de um cofre.
Christophe Blain leva-nos a conhecer o Oeste através de três cowboys eternamente apaixonados, que conversam à volta da fogueira, cantam e se apaixonam, olhando para a mulher como um ser quase celestial. Um primeiro volume onde encontramos referências cinéfilas e um desenho pouco convencional, onde gravita o espírito de cartoon e um jogo de cores e de sombras que chega a ser encantatório. Venha o próximo.
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