A grande questão que um fã dos GNR colocará antes de abrir as páginas de “GNR – Onde nem a beladona cresce” (Porto Editora, 2016) será mais ou menos esta: farão estas duas centenas e quase meia de páginas justiça à maior banda da história da pop nacional? A resposta é um rotundo e gordo sim, uma vez que Hugo Torres ultrapassa a ideia sisuda de biografia para, numa narrativa entusiasmante, dar voz ao trio maravilha da pop portuguesa: Tóli César Machado, Rui Reininho e Jorge Romão.
A abertura é, desde logo, um bom prenúncio, com um texto sobre cada um dos GNR que atravessa a sua vida pessoal e a forma como, a certa altura, fizeram da música o seu serviço militar obrigatório, atirando com a farda e as convenções às urtigas. Um momento que serve, igualmente, para estabelecer as diferenças de espírito entre os membros da banda: o cerebral Tóli, compositor genial que, se for preciso, até pode tocar ferrinhos; o sempre bem-disposto Romão, sacado na recta final aos futuros Ban e que chegou a Portugal sem saber o que era o frio; o grande Rui Reininho, entertainer de primeira água, escriba dos sete costados e figura maior da música portuguesa, letrista com sentido de humor, tomates e requinte.
O livro segue uma linha cronológica, que vai do trio formador constituído por Tóli César Machado, Alexandre Soares e Vitor Rua ao momento em que, vindos do nada e depois de um silêncio que ia incutindo a saudade, mostraram a “Caixa Negra” e nos disseram que continuam por cá e a reinar com tudo isto.
Neste belíssimo livro de capa dura, onde abundam fotografias e recortes de jornal – e que oferece ainda um CD com o tema “Arranca-Coração” -, Hugo Torres leva-nos numa travessia de três décadas e meia, recuperando os momentos essenciais da banda que tem sempre jogado na Liga dos Campeões. Uma história que mete separações e reencontros, prisões por espionagem e uma orquestra de geninhos e que é, sobretudo, uma história de superação de uma banda que insistiu (quase) sempre em cantar em português – ainda que tenha deixado algumas pérolas escritas em inglês -, que levou sempre Porto no coração e, apesar das pressões editoriais, nunca quis viver à sombra do passado. Uma banda que tomou conta do Coliseu quando este era o antro da canção de intervenção, que encheu pela primeira vez um estádio de futebol e que fazia troça do facto de se ter de cantar em playback nos programas de televisão. No que toca à música portuguesa, os GNR não são “uma” banda. São “a” banda. Este livro faz-lhes toda a justiça.
De referir que recta final de 2016 vai ser em grande para os GNR, que prepararam dois concertos para celebrar os 35 anos de carreira: 5 de Novembro no Multiusos de Guimarães e 12 de Novembro no Campo Pequeno, em Lisboa. Dois momentos que contarão com participações especiais de Javier Andreu (Sangue Oculto), Isabel Silvestre (Pronúncia do Norte) e Rita Redshoes (Dançar Sós).
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