“Gaspar, com os pés bem assentes na Lua” (Caminho, 2024) é o título mais recente de Rita Taborda Duarte, dedicado ao público juvenil, magnificamente ilustrado por Sebastião Peixoto. Um livro que nos dá a conhecer Gaspar, um jovem que conhecia a lua como ninguém, que sabia que “ela, traiçoeira, nos espiava quando sobrevoava as nossas cabeças, aguardando o momento certo para atacar as suas presas”. A avó achava que “ele estava aluado”, e a restante família e amigos Todos pensavam que a lua não lhe estava a fazer bem à cabeça.

Era evidente o seu mal-estar, pois “mal comia, cada vez mais pálido, de olhos meio tortos. Cada vez mais magrinho, que mais parecia, não um pau, mas um fio fininho e branquelas de virar tripas”, e o seu mau humor matinal comprovava que a lua estava a deixá-lo meio louco. Todos se encantavam com os feitiços da Lua, mas Gaspar continuava a desconfiar dela. Um dia, encheu-se de coragem e decidiu enfrentá-la, sem medo. O que acham que aconteceu?
Antes da história começar, a autora interpela o leitor para lhe falar de “um palavrão palavroso, a rebentar de letras, que dá pelo nome de BIODIVERSIDADE”. Para quem desconhece este “palavrão palavroso”, a autora esclarece que é o que faz com que o mundo seja mais bonito, variado e colorido, exemplificando com a diversidade de pirilampos: “o pirilampo-ibérico, o pirilampo-comum, o pirilampo-grande-de-lunetas, o pirilampo-preto, o pirilampo-lusitano, entre muitos outros”. A diversidade de pirilampos é enorme, tal como das palavras que habitam na nossa língua, nos livros, nos nossos pensamentos e na nossa vida. Palavras alegres e tristes. Medrosas e Radiantes. Cintilantes como esses “pacatíssimos animais” que habitam na Terra. Sonhadoras e aluadas – por influência da Lua, feiticeira perigosa mas sábia. Sedutoras e voadoras. São tantas as palavras “com que falamos e pensamos”.

Ler “Gaspar, com os pés bem assentes na Lua” é compreender a biodiversidade do mundo, mas é essencialmente aceitar o poder, o valor das palavras, e a importância de combater o empobrecimento vocabular – verdadeiramente, trata-se de homenagear a PALAVRODIVERSIDADE. Rita Taborda Duarte continua a encantar-nos com histórias questionadoras – e magistralmente bem narradas.
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