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“Gambito de Dama” | Walter Tevis

Por Pedro Miguel Silva · Em 14/04/2021

Foi escrito em 1983 e, até a Netflix lhe ter pegado em 2020 para criar uma mini-série de sete episódios, provavelmente nunca teria gerado um tráfico literário ao nível de um bestseller. Uma série que, diga-se, transformou este “Gambito de Dama” (Suma de Letras, 2021) na mini-série mais vista de sempre da plataforma, tendo levado para casa os Globos de Ouro de Melhor Mini-série e Melhor Actriz (Anya Taylor-Joy).

Walter Devis (1928-1984) foi professor de Literatura Inglesa na Universidade de Ohio, tendo escrito sete romances – três deles adaptados ao grande ecrã: “O homem que veio do espaço”, “A vida é um jogo” e “A cor do dinheiro”. Para Devis, a escrita de “Gambito de Dama” terá partido do seu amor ao xadrez e da admiração por grandes mestres como Robert Fischer, Boris Spassky ou Anatoly Karpov que, aqui, surgem como sombras e em segundo plano relativamente a Beth Harmon, que desde muito cedo tentará contrariar as primeiras palavras que o seu improvável professor de tabuleiro lhe irá dizer: “– As raparigas não jogam xadrez”.

Beth Harmon vive num orfanato em Mount Sterling, Kentucky, desde os seus 8 anos, altura em que a mãe sofreu um acidente de viação, tendo o pai saltado fora de qualquer compromisso ou responsabilidade. Será numa das idas à cave que Harmon irá conhecer o sisudo senhor Shaibel, bem como o estranho jogo a que se entrega sozinho, e que exercerá sobre ela um inexplicável fascínio. Aos poucos, através de pequenos gestos, Harmon irá ganhar o respeito e a confiança de Shaibel, que ilhe irá explicar as diferentes variantes, aberturas, defesas, até ouvir isto: “Se queres que te diga a verdade, criança, és extraordinária”.

Fundindo o amor ao xadrez e a voracidade com que vai devorando os excitantes e tranquilizantes que o Orfanato distribui como rebuçados, Harmon descobre a sua missão de vida: “Algo na sua vida se tinha decidido: sabia sobre peças de xadrez e sobre como se mexiam e eram capturadas, e sabia o que usar para que o seu estômago e as articulações tensas dos seus braços e pernas se sentissem bem: os comprimidos que o orfanato lhe tinha dado”.

Gambito de Dama, Walter Tevis, Deus Me Livro, Suma de Letras, CríticaWalter Devis conduz-nos numa viagem de superação e de descoberta, onde acompanhamos uma iniciação sexual à boleia de expressões como “chupa-pilas”, o predomínio do homem – mesmo ausente – em questões como adopção, a altivez masculina perante um jogo que considera pertence-lhe e ideia de que, no xadrez, todos são umas prima-donas. Por falar em xadrez, a certa altura surge uma definição deste desporto muito bem apanhada, que agradará a totós e a quem não não sabe chamar as peças pelos nomes: “Isso não é aquilo que parece damas, mas em que as peças andam aos saltos que nem doidas?”. Um livro que se lê de um fôlego como puro entretenimento – tal como a série.

CríticaDeus Me LivroGambito de DamaSuma de LetrasWalter Tevis

Pedro Miguel Silva

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