“Não faço ideia para onde vamos, todos os outros o sabem, eu não”. Estas são as palavras que dão início a “Fora de Si” (D. Quixote, 2018), o romance de Sasha Marianna Salzmann que parte da sua experiência pessoal na diáspora judaica na União Soviética para nos falar da problemática da emigração e da esperança de uma vida melhor num outro país, reflectindo sobre questões como a identidade, a emigração ou o desenraizamento.
No velho apartamento de Moscovo, os gémeos Alissa e Anton formam um par, mas não por muito tempo. A família muda-se para a Alemanha Ocidental e, aí, tudo muda. Anton desaparece sem deixar rasto, até que um dia chega um postal enigmático: “Nem texto, nem qualquer saudação. A morada fora gatafunhada com a letra de uma criança de nove anos, nem sequer um “ Estou bem, Anton”, ou “ Espero que vão todos para o inferno, tanto me faz se estão bem ou não. Anton” (…) Talvez ande a fazer uma viagem pelo mundo”. As palavras tornam-se ocas, vãs, desnecessárias. O sinal é visível. Urge o reencontro, uma busca incessante de respostas dentro e fora de si. Afinal, quem somos?
Nas ruas ruidosas, imundas e agitadas de Istambul, Ali vagueia entre pensamentos, recordações e episódios dos seus antepassados: pais, avós e bisavós viveram, sofreram, amaram, discutiram, riram e choraram, criaram a sua própria história. Ali vê-se, então – assim como o leitor -, confrontado com a sua existência, com ele próprio. Mais do que um livro sobre uma família, estamos perante uma narrativa que fala na construção de uma história familiar alheia à realidade – apenas feita de lembranças.
Sasha Marianna Salzmann nasceu em Volgogrado, no Cáucaso russo, em 1985, e viveu em Moscovo. Filha de uma família judia que fugiu do socialismo soviético nos anos 1980, emigrou para a Alemanha, onde estudou Literatura, Teatro e Ciências da Comunicação na Universidade de Hildeshein, e, mais tarde, Escrita Criativa para Teatro na Universidade das Artes de Berlim. É, desde 2013, escritora residente do Teatro Maxim Gorki em Berlim. “Fora de si” foi nomeado em 2017 para o Prémio do Livro Alemão (nomeação raríssima numa obra de estreia), venceu o Prémio Jürgen Ponto e foi traduzido em mais de uma dúzia de línguas.
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