Os números não enganam: mais de 100 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, um dos três autores mais lidos, posição cimeira nos bestsellers do New York Times. Estas proezas têm em comum o nome de Nelson DeMille, responsável por títulos como “O Jogo do Leão” ou “Força Divina”.
Aproveitando esse filão criativo chega-nos “Fogo Mortal” (Marcador, 2016), mais uma aventura do destemido John Corey, ex-detective de Homicídios da Polícia de Nova Iorque e, agora, agente da Brigada Federal Anti-terrorista. Desta vez, o leitor viaja até outubro de 2002, um ano após o 11 de setembro, numa altura em que os órgãos de comunicação norte-americanos dedicavam particular atenção ao Presidente Bush e à iminente invasão dos Estados Unidos da América ao Iraque.
Enquanto se vive um ambiente conturbado e a sede de vingança é por demais perceptível, o agente especial Harry Muller, também ele ex-detective do Departamento de Homicídios de Nova Iorque, é destacado para uma missão cujo objetivo é vigiar o Clube Custer Hill, uma sociedade secreta composta por alguns dos homens mais poderosos dos Estados Unidos da América e cujos planos incluem uma poderosa retaliação com o nome de código “Fogo Mortal”.
A meio da investigação, Muller é capturado e feito refém. No seio da organização acaba por conhecer Bain Madox, presidente e proprietário do Custer Hill Club – assim como da Global Oil Corporation -, tal como outros membros ilustres da sociedade norte-americana como Scott Landsdale, membro da CIA, Paul Dunn, que integra o conselho de segurança do Presidente, ou Edward Wolffer, Secretário da Defesa norte-americana.
Depois de um período de alguma apreensão, Muller começa a inteirar-se da dinâmica do grupo que se reúne no clube, constatando que os seus membros colocam a hipótese de existir uma ameaça nuclear em solo norte-americano. Sabe o grupo que, depois do colapso da União Soviética, vários territórios se armaram de bombas nucleares “portáteis” e o perigo ronda a cada instante.
A juntar a este terrível realidade, Muller toma também conhecimento de um protocolo nascido aquando da administração Reagan, de nome “Fogo Mortal”, que determina que qualquer resposta nuclear das forças norte-americanas pode ser decidido sem a autorização do Presidente – e que tem no mundo islâmico um dos mais prováveis alvos. Mas será toda esta estratégia uma forma de bluff? Desconfiados de todas as movimentações norte-americanas, os serviços de espionagem árabes tomam conhecimento de “Fogo Mortal” e reagem.
Ciente que qualquer domínio do mundo árabe pode significar o controlo da produção de petróleo, Madox e aliados sabem o poder que está em disputa. E nada melhor que provocar os extremistas islâmicos com ataques planeados em algumas áreas estratégicas. Os ecos do Vietname pairam nas memórias de alguns dos veteranos do Clube Custer Hill e a sede de vingança faz crescer a sede de violência.
Estão assim lançados os dados para mais uma explosiva aventura com John Corey no centro das atenções, com DeMille a construir um palco assustadoramente real – ainda que as doses de ficção, principalmente de aspecto geo-político, sejam generosas.
Fazendo uso dos habituais e crispados diálogos, DeMille consegue em “Fogo Mortal”, o livro, aumentar os níveis de sarcasmo de Corey, personagem que tem no restante elenco que o cerca companheiros ideais para a construção de uma narrativa repleta de sentido de acção e velocidade cinematográfica – ainda que com alguns apontamentos algo previsíveis, sem dúvida um dos (poucos) pontos fracos deste livro.
Outro dos trunfos de DeMille é a contextualização de uma sociedade ainda muito afectada pelos efeitos nefastos do 11 de setembro, principalmente entre as forças de segurança norte-americanas, que têm um decisivo papel em toda esta trama e tentam, à força, lamber feridas e cicatrizá-las definitivamente.
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