A primeira pergunta que apetece colocar ao leitor de “Eu Não Fui” (Kalandraka, 2019), em jeito de desculpar o mau jeito da camponesa que protagoniza esta história, é mais ou menos esta: quem não tem medo de aranhas?
Neste livro, uma aranha esborrachada dá origem a uma série de equívocos e empurrões em série, que começam com um coice de uma vaca à camponesa que, rapidamente, passa da alegria inicial a uma grande zanga.
Passam também por aqui um “burro zarolho“, um “porco maldito“, um “cão de uma figa“, um “bichano malvado“, um “pinto do diabo” e um “mosquito desgraçado“, até que o culpado se vê finalmente desmascarado numa história que tenta provar, de certa forma, uma velha máxima popular: a culpa morre solteira. E que ainda arranja tempo para, nas entrelinhas, mostrar que cada um tem um papel importante a desempenhar no equilíbrio da vida na terra – mesmo que para tal acontecer cada pêlo do braço tenha de arrepiar caminho.
As ilustrações misturam o desenho com objectos reais como arame, pedaços de tecido ou papel, conferindo uma tridimensionalidade a um cenário que vai permanecendo página após página, em tons ocres, com feno no chão e uma parede pouco dada a pinturas.
Christian Voltz fez os seus estudos na Escola Superior de Artes Decorativas de Estrasburgo. Designer de cartazes e ilustrador, colabora com a imprensa e com diversas publicações direccionadas para o público infanto-juvenil. É autor de vários álbuns ilustrados, que integram sobretudo o catálogo da Rouergue, da Didier ou da Grandor. Actualmente, as suas obras estão traduzidas em cerca de dez línguas. É ainda realizador de curtas de animação para uma produtora audiovisual. Vive e trabalha em Estrasburgo.
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