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Eu Matei Xerazade, Deus Me Livro, Sibila Publicações, Joumana Haddad
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“Eu Matei Xerazade” | Joumana Haddad

Por David Pimenta · Em 06/12/2017

“É necessário, particularmente no mundo árabe, que a mulher tome as rédeas da sua vida, passo a passo, sem esperar nada de ninguém, e sem ser um espelho que reflicta o que os outros pensam que deveriam ser a sua imagem. A verdadeira questão consiste em que ela recupere a identidade que lhe foi roubada e desfigurada.”

Ficção e ensaio que ajudem a pensar o tempo presente: é este o objectivo da nova chancela editorial Sibila Publicações, criada recentemente por Inês Pedrosa. “Eu Matei Xerazade” (Sibila Publicações, 2017) – com o sub-título Confissões de uma mulher árabe em fúria -, de Joumana Haddad, é um relato cru e duro sobre o que significa ser uma mulher árabe na actualidade, quebrando, em cada capítulo, os estereótipos de clausura e proibição associados, por um número elevado de orientais, às mulheres desta cultura. Carta aberta a todos os leitores ocidentais e, em especial, aos orientais, que leva o leitor por ondas de forte indignação, misturado com doses de revolta e de esperança.

Xerazade, heroína celebrada na cultura árabe como “uma mulher culta, suficientemente engenhosa, imaginativa e inteligente para se salvar da morte” imposta pelo Rei Shariar na obra “As Mil e Uma Noites”, é a personagem central, mas nunca incluída directamente na carta de Joumana, que leva a escritora libanesa a debruçar-se sobre a vida da mulher árabe, colocando as suas próprias experiências em cima da mesa. O leitor é levado por um relato de exploração da liberdade, curiosidade e ausência de crença numa identidade religiosa superior entre as mulheres árabes da actualidade.

Virginia Woolf escreveu, tal como enumerou Joumana no seu livro, que o anónimo foi sempre uma mulher. Ao longo da história da humanidade, as mulheres sempre foram afastadas dos assuntos decisivos para a sociedade: era o dever dos homens e a mulher ficava encarregada, unicamente, de colocar-lhe um prato de comida na mesa e de ter todas as tarefas domésticas concluídas. Uma realidade que continua presente, de forma cada vez mais assustadora.

Eu Matei Xerazade, Deus Me Livro, Sibila Publicações, Joumana HaddadJoumana descreve vários episódios da sua vida para dar força às suas afirmações: quando descobriu um mundo totalmente novo após a leitura de Marquês de Sade, o momento em que sentiu a necessidade explorar o erotismo e o corpo na sua poesia ou ao lançar a Jasad, uma revista árabe com conteúdo erótico.

Longe de ser uma revista meramente pornográfica, em que o corpo pode ser consumido de forma rápida, Jasad foi a primeira revista árabe que se propôs a ser “uma indagação intelectual em torno da consciência e da inconsciência do corpo”. Reflectir sobre o corpo, o eixo central do ser humano, era para Joumana uma necessidade fulcral. Os aplausos no seu país não existiram e as ameaças violentas foram crescendo, uma situação determinante para a autora se afirmar como uma das maiores activistas árabes pelos direitos das mulheres.

Os episódios de “Eu Matei Xerazade” são de uma riqueza extrema pela honestidade de Joumana, ao dar a conhecer a sua própria realidade. É uma obra de aviso não só às mulheres árabes, mas a todas pela luta pelos seus direitos. Estar ao mesmo nível do homem não significa criar discursos de ódio: Joumana crê e repete que é necessário um trabalho das duas partes. Passado, presente e futuro interligam-se nas páginas deste livro, deixando o leitor em estado de alerta. No máximo, ficará em fúria por ainda faltarem tantas transformações na cultura árabe e no mundo.

Eu Matei XerazadeJoumana HaddadSibila Publicações

David Pimenta

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