Para um entendido do universo Marvel, a resposta à pergunta “Quem é o tipo menos emocional e com um poder imenso” não deverá representar pólvora suficiente para um tiro ao lado. É certo que aceitaríamos como meio-certo quem, por acaso, se decidisse por um “Surfista-Prateado”, mas para ganhar uma estrela no caderno ou um chupa-chupa a resposta teria mesmo de ser, claro, “Visão”.
“O Visão” (Goody, 2018), que tem a honra de fechar a primeira série do Especial Marvel, é um sintozóide, qualquer coisa como um androide composto por sangue e órgãos humanos sintéticos. Criado pelo Ultron para destruir os Vingadores, preferiu antes voltar-se contra o próprio “pai” e, desde então, passou de vilão a herói juntando-se a esta equipa de super-heróis.
Na altura em que decorre esta história, o Visão decide apagar do seu disco rígido as emoções associadas às suas memórias, de modo a manter o sistema de processamento menos sobrecarregado. A operação, porém, parece não ter corrido pelo melhor, ainda que o Visão vista a pele de um Kant e diga coisas como “Afirmar como verdadeiro aquilo que não tem significado é a principal missão da humanidade” ou “A procura de um propósito estabelecido via meios lógicos é o caminho para a tirania; (…) a procura de um propósito inatingível via meios absurdos é o caminho para a liberdade”.
Neste volume, que reúne os primeiros seis números de The Vision – e cuja continuação chegará algures na Série II dos Especiais Marvel -, Visão e família protagonizam uma versão 4.0 e algo desvairada da Beleza Americana, tentando uma vida nos subúrbios onde são olhados como bichos raros, acusados em surdina de não terem um pingo de humanidade e de não passarem de robots sem alma.
Subúrbios esses que vão mexendo com todo o núcleo familiar, que aos poucos vai chegando perto de uma insanidade que promete não criar boa vizinhança. O final, esse, deixa dois copos de água na boca, prometendo uma continuação onde estarão metidos ao barulho muitos super-heróis, naquilo que poderá ser uma Guerra Civil de nível doméstico.
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