Se há livros que cantam, ou cujos versos poderiam dar canções para serem entoadas num animado coro, “Era uma vez uma cadela” (Tcharan, 2019) será certamente um deles.
Começamos com o clássico modo carochinha, com uma cadela exibindo a sua beleza na moldura de uma janela de primeiro andar. Porém, na falta de passantes ou aspirantes a pretendentes, esta decide tomar o destino nas suas próprias patas, fazendo-se à estrada em busca de marido.
Um a um, os pretendentes vão levando nega, seja por se mostrarem reguilas, assustadiços ou beijoqueiros, mas nem o fel da rejeição faz com que abandonem a corte, acabando por formar uma curiosa e numerosa procissão.
Os versos vão crescendo, a lengalenga vai ganhando embalo e o jardim zoológico vai crescendo, uma vez que ninguém parece agradar a esta cadela com requisitos morais, físicos e hábitos feitos de muita exigência e subtil refinamento. Mas a verdade é que há sempre um sapato velho que sirva de par a outro, não valendo por isso a pena cair ao primeiro piropo ou elogio de quem surja pelo caminho.
Muito divertido e musical, “Era uma vez uma cadela” mostra-nos animais que caminham com as costas, patas e pescoços direitos. E os olhos abertos. Muito abertos.
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