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Entrevista: Tati Bernardi

Por Pedro Miguel Silva · Em 25/10/2019

Tati Bernardi, nascida em São Paulo, Brasil, no ano da graça de 1979, é colunista do jornal Folha de S. Paulo e guionista permanente da Rede Globo. Já escreveu guiões para telenovelas, séries talk shows e longas-metragens. Em Portugal e com o selo da Tinta da China, tem publicado “Depois a louca sou eu“, que serviu de embalo ao tema da mesa do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, onde se sentou ao lado de Rui Cardoso Martins e Inês Costa Santos: “Sobre o medo não estás sozinho”. Depois de ter perdido o avião e cancelado a entrevista, a autora brasileira deu-nos o seu número e fizemos a festa via WhatsApp. Foi divertido à brava.

 

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Teve de tomar algum rivotril para ganhar moral para esta entrevista ou o café da manhã foi suficiente?

Depois que fui mãe melhorei demais da ansiedade relacionada a mim. Fico mais ansiosa relacionada a ela. Então não tomo mais rivotril. E café nunca tomei porque fico muito pilhada.

Disseram-me que por estes dias todo o mundo está louco por Tati Bernardi no Brasil. Confirma esse estatuto de estrela cintilante do humor brasileiro? Ou a síndrome do impostor ainda fala mais alto?

Eu sofro super da síndrome do impostor. Ontem mesmo lançaram um filme aqui no Brasil baseado no livro “Depois a louca sou eu” e a sessão estava cheia, um monte de gente elogiando o livro. E eu pensando como ainda preciso fazer coisas legais e ser uma escritora conhecida e tal. Parece que não consigo entender que isso já aconteceu.

O seu humor é um pouco sem meio-termo – ou é terno ou é furioso -, e tem sido alvo de memes incríveis ou críticas que chovem de todo o lado: feministas (“eu só acredito em feminista que fica de quatro“) e machistas (que já a chamaram de “rodada“), defensores do PT e do PSDB (nesse caso, por um mesmo texto, “Como continuar petista?“), realizadores do cinema independente (que a chamaram de dinheirista por um texto em que ironizava quem trabalha de graça) e adeptas do parto humanizado (“eu não quero ver sua xota, gata“). Para além do rivotril – que agora percebo que não toma mais -, como consegue lidar com tanta zanga?

Esse período todo de apanhar nas redes sociais das feministas ficou para trás. Hoje em dia eu estou tão focada em falar mal do Bolsonaro que qualquer pauta de esquerda me agrada. Eu nunca fui contra o feminismo, apenas contra algumas feministas chatas e demagogas. Mas isso é uma bobagem. Eu sou contra qualquer pessoa chata e demagoga.

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Esta edição do Folio tem como tema o medo, e parece ter sido este o motivo que a levou a escrever “Depois a louca sou eu”, que resultou da promessa de isso acontecer se sobrevivesse a uma queda de avião que parecia certa. Relativamente a medos, o seu maior será o de se tornar uma pessoa normal, chata?

Meu medo do normal é um medo de tudo o que é fake, na verdade. O normal é fake, é disfarce, é achatamento para pertencer. Isso me dá muita ojeriza e angústia.

Dá ideia de que se fizéssemos uma árvore genealógica da família da Tati, esta seria quase como que uma historia familiar da ansiedade – “uma família ligada pelo amor e a colite nervosa“. No livro diz que a angústia e a morte eram pensamentos recorrentes durante a sua adolescência. Foi essa ansiedade que a levou a fazer do humor a melhor defesa?

Minha família é cheia de gente ansiosa e todos acabaram virando grandes personagens de tudo o que escrevo. Fiz disso meu estilo sim, eram personagens prontos e engraçados e me aproveitei disso porque esse é o trabalho de um escritor… e também para poder olhar com mais leveza para tudo.

A certa altura neste “Depois a Louca Sou Eu” pergunta isto: “Como se faz para ir a qualquer lugar sem achar isso gigantescamente insuportável? Sem ficar cansada antes mesmo de ir?“. Já encontrou algumas respostas?

Ainda odeio ir aos lugares mas depois gosto muito de ter ido. Então chego sempre em um meio termo e vou só aos que preciso muito.

Tenebrosa, insegura, doente. Será este uma espécie de auto-retrato?

Minha marca registrada é desmarcar as coisas.

De entre as várias mentiras que contou num avião para ter um lugar mais perto da saída, qual foi aquela que de tão boa merecia o Oscar para melhor actriz?

Minha maior mentira no avião foi que eu tinha uma virose terrível e precisava sentar isolada de todos. Acreditaram tanto que não me deixaram embarcar.

Conseguiu ver “Terminal de Aeroporto”, aquele filme do Tom Hanks, sem começar a hiperventilar?

Você acredita que acho chatérrimo esse filme do terminal?

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Nunca pensou em seguir a carreira de dealer farmacêutica? Parece não haver bula que lhe seja desconhecida. E até disse, numa entrevista, “a melhor religião para mim é a farmácia“.

Eu gosto de passar horas fuçando nas farmácias, meu marido quer me matar. Vendo as novidades para dor de garganta e intestino irritado.

“Uma louca se rasgando em praça pública“. Ainda é esta a sua postura em cada festa para a qual se vê convidada?

Ainda me chamam para festas e trabalhos mas depois da maternidade eu nego boa parte dos que não me interessam. Fiquei bem mais selectiva, graças a Deus. Antes eu não sabia muito dizer não. Agora vivo cansada e já está resolvido.

O sexo tem a porta escancarada em “E a Louca Sou Eu”, com revelações que chegam a meter Tati como um dínamo de separações amorosas. Não teve receio desta exposição pública? Isto é quase amor livre em versão literária.

Eu me exponho muito quando escrevo e confesso que isso não me incomoda em nada. Mas já incomodou muitos namorados que terminaram comigo. Acho que meu marido é um cara mais descolado e artista, por isso ele aguenta. Ele trabalha com a mesma coisa por isso entende.

Tati Bernardi, Folio, Folio 2019, Deus Me Livro, Depois a louca sou eu, Tinta da China  No Brasil as coisas não estão fáceis, mas é um cenário que para um humorista é que nem praia. Enquanto cronista, escreve sobre a situação política e social do Brasil?

Estou super focada em falar mal do Bolsonaro nas redes sociais porque esse homem é a maior vergonha do nosso país. Mas também em escrever crônicas menos políticas porque enjoei delas por um tempo.

Para terminar. Já encontrou o meio-termo entre ser “uma magra tarada louca” e “uma gordinha assexuada sã“? Como se define a Tati Bernardi por estes dias?

Eu tenho preferido ser mais gordinha e meio assexuada ultimamente, mas em breve devo mudar minha opinião se tudo der certo. Porque ninguém aguenta não ser louca sem achar que isso não é a maior das loucuras, né?

 

Fotos: Luísa Velez

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Pedro Miguel Silva

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