Lançamos o repto: se há alguém no mundo que esteja a ler “Ensaios sobre Literatura” (Assírio & Alvim, 2016 – reedição) – dessa mente rara de nome completo Walter Bendix Schönflies Benjamin – por lazer, ou seja, sem se encontrar asfixiado pela falta de ventilação e medicado pela ervanária para ansiedade-estado, prestes a sofrer uma quebra de tensão numa qualquer biblioteca universitária por esse país fora, essa pessoa que se chegue à frente. Perguntar-lhe-iamos: que leva você a fazê-lo sem ser por necessidade?
A primeira resposta, mais óbvia, será, É Walter Benjamin, Slavoj Žižek farta-se de falar no tipo e venera-o e há uns tempos apanhei um magrinho de um euro na Feira do Livro que se chamava “Sobre o Haxixe e Outras Drogas”. E, em boa verdade, Benjamin é daqueles pensadores que a academia adora, do professor auxiliar ao catedrático, na volta está batido algures no programa da vossa cadeira esotérica que nem bem no currículo fica, caso queiram arriscar a posta por escrito. Essencial, portanto, seja na investigação sobre a fauna das ilhas Galápagos, anterior ao atracar do Beagle na sua orla costeira, seja sobre o turismo sexual feminino nas estâncias balneares do Kenya.
Posto isto, o brilhantismo de Benjamin é inegável. Prosa erudita, mais requintada na sua fluidez degustativa que um Ferrero Rocher. É, também, clara quanto baste, especialmente se pensarmos no casulo hermético que tendem a ser os ensaios académicos que dizem muito pouco, pese o word count medonho. Em “Ensaios sobre a Literatura” são abordados diversos dos panteónicos da língua germânica, como o magnânimo Goethe ou a tímida barata Kafka, que sobreviverá ao holocausto nuclear e à devastação terrestre causada pelo asteróide da extinção; passando pelos ilustres francófonos que demonstraram o vasto potencial da linguagem (de formas distintas): Proust e Brecht. Se isto for suficiente para convencer alguém que, por algum motivo, enveredou por “Estudos Alemães” ou “Línguas, Literaturas e Culturas” e demais náufragos da época de exames; até o nosso Embaixador em Berlim – então óptimo.
Novamente, em boa verdade, é difícil recomendar isto a alguém. A não ser como forma de exponenciar os efeitos de um forte chá de raiz de valeriana, ou desencorajar-vos a uma ingestão irresponsável de soporíferos que causem uma overdose e vos embalem no sono eterno. Desejamo-vos uma valente sorna, mas saudável. Desliguem os vossos telemóveis. Se não têm persianas na janela porque são pobres, cubram-nas com sacos pretos do lixo. Aos alunos de Humanidades: as vossas cefaleias ainda agora começaram.
1 Commentário
Meu amigo, você escreve que é uma coisa linda. Saudações, e obrigado pela gargalhada noturna.