Este é um livro estreito, mais alto que largo, capaz de fazer com que Adjoa, a jovem e decidida protagonista, possa empilhar na cabeça todo o tipo de objectos, mantendo a pose altiva para não ter de ouvir da boca de ninguém um muito audível “Endireita-te” (Orfeu Negro, 2020), trazendo-lhe memórias de um outro tempo e de palavras de censura meiga: “-Adja, endireita-te! Quantas vezes na vida ouvi eu esta frase, esta canção?”.
Um peso que, aqui em Djougou, é apenas carregado pelo sexo feminino, à medida que o corpo vai ganhando quilos e a idade avança sem mostra de piedade. Pela cabeça de Adja, como pela de qualquer menina, passa um misto de objectos e sentimentos, seja uma prótese ou um segredo difícil de guardar, meio borrego e desilusões, especiarias e invejas bicudas. Coisas que carrega sempre de cabeça erguida, como se o mundo tivesse lugar no alto da sua cabeça.
Um livro que apela ao poder de transformação, ao contágio e à vontade de mudança, à não violência, para que caminhemos, direitos, em direcção à igualdade de género e a uma sociedade mais justa.
As ilustrações são belíssimas, com um certo toque de banda desenhada, com cores vivas e um traço carregado que confere uma sensação de eterno movimento – seja com a chuva que cai, um balde que desce até ao fundo de um poço ou o caminhar de peito feito.
Rémi Courgeon é um reconhecido escritor e ilustrador francês, com mais de 60 obras publicadas. Em 2017 foi premiado com o Best Illustrated Children`s Book pelo The New York Times, com o álbum “Bridille”, sobre uma jovem pugilista. Que a Orfeu Negro possa publicar este também.
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