O romance autobiográfico de Tom Malmquist, poeta sueco que se estreia assim na prosa, relata uma experiência por que passou com a inesperada fatal doença da companheira, com o nascimento da filha prematura a acontecer no meio de um intenso sofrimento pessoal e, pouco tempo depois, a morte do seu próprio pai.
O autor avança enredado em diagnósticos médicos que consegue descodificar com imensa dificuldade, entre desentendimentos familiares e burocracias da Lei Sueca quanto à kafkiana imposição da comprovação judicial da paternidade da filha – e que levam o autor a um profundo estado de cansaço emocional e físico.
Tom Malmquist tem, ainda assim, de aprender a cuidar da pequena bebé Livia – que apaixona o leitor desde que está, indefesa, na incubadora -, tornando-se o apoio e o guia deste novo ser. É comovente a forma como o autor se manifesta, partilhando com o leitor a sua história numa fase da vida em que o mundo parece colapsar de um dia para o outro. Dor, revolta, fúria controlada, raiva, luto, desalento, mas também esperança, comoção, deslumbramento, amor e uma enorme resiliência fazem parte estrutural desta narrativa, lembrando sempre que, mesmo no meio do intenso caos, é urgente continuar a viver.
São então trazidos fragmentos do passado da vida afectiva com a companheira, bem da vida com os pais desta e os seus, numa escrita escorreita, firme e segura, onde perpassam a dor e os sentimentos tumultuosos mas refreados, reservados e íntimos.
Numa palavra, o livro é intenso. Impressiona a carga emocional, a disciplina emocional contida na escrita, o relato profundamente pessoal e o extraordinário talento literário de Malmquist. Há uma mistura cadenciada entre a dor da perda e a alegria da nova vida, entre o pesar inimaginável das pessoas envolvidas e a esperança centrada num novo ser, entre a infelicidade e a felicidade, entre o sentimento de derrota aparentemente inultrapassável e o sentimento de continuar a vida, dando-lhe um verdadeiro sentido.
Tom Malmquist nasceu em 1978, em Huddinge, na Suécia. Começou por publicar dois livros de poesia, mas foi este o seu primeiro trabalho em prosa que arrebatou a crítica em 2015. Actualmente vive em Estocolmo com a filha Livia. “Em Todos os Momentos Estamos Vivos” (Porto Editora, 2019) venceu diversos prémios na Suécia e está já publicado em mais de vinte países.
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