Provavelmente já todos terão ouvido falar de Édipo, um mito que envolve um filho que mata o pai e se enrola com a mãe – uma praia, portanto, para o Sr. Freud -, mas poucos saberão que o significado de Édipo está longe de ser assim tão glamoroso, don juânico ou perverso: nada mais nada menos do que “pés inchados“.
“Édipo” (Gradiva, 2019) é mais um álbum da colecção A Sabedoria dos Mitos, concebida e escrita por Luc Ferry, que sucede ao inicial “Prometeu e a Caixa de Pandora“. Aqui, acompanhamos as aventuras e desventuras de Édipo, que se vê abandonado pelos pais em tenra idade para evitar a queda de Tebas anunciada pelos deuses. Desafiando as probabilidades, o recém-nascido acaba por ser salvo e adoptado por Pólibo, rei de Corinto, que na impossibilidade de deixar descendência decide criar Édipo como seu filho, sem que este saiba da coisa.
Tudo corre bem até uma certa noite quando, depois de uns valentes copos a mais, um tipo bêbado lhe diz que é uma criança adoptada. Ao consultar o Templo de Apolo, em Delfos, uma profecia é-lhe então revelada a muito custo: “Matarás o teu pai, e depois casarás com a tua mãe“. Fugindo para evitar o cumprimento da profecia, não fará mais do que ir ao encontro do seu destino, estacionando numa cidade que se vê tomada pela Peste e onde a salvação, segundo o Oráculo, chegará quando o assassino do rei defunto – neste caso, o rei do sítio – for preso e punido pelo seu crime.
Estamos diante da verdadeira tragédia grega, onde Édipo se vê transformado num joguete de um destino superior que lhe escapa de todas as formas. Quanto à mensagem transmitida, e atirando com Freud às urtigas, Luc Ferry fala não de resignação mas antes de “um incentivo ao desenvolvimento da nossa capacidade de acolhimento, de abertura ao mundo, um incentivo a aproveitar a vida enquanto ela existe, enquanto ela corre bem, o que pressupõe uma certa relação com o tempo que em grande parte perdemos“. No final, e como já é tradição nesta colecção, apresenta-se um dossier complementar que analisa e espreme o significado filosófico e a herança cultural que teve o mito de Édipo.
Sem Comentários