Blueberry, Texas Cowboys, Lucky Luke, Tex. O mundo dos westerns e do farwest foi sempre uma inspiração para a banda desenhada que, de tempos a tempos, vê surgir uma nova série que viaja no tempo e (re)visita os sítios mais recônditos e empoeirados dos Estados Unidos da América.
Hermann, desenhador de séries como Bernard Prince (argumento de Greg), Jugurtha (argumento de Vernal), Jeremiah ou As Torres de Bois-Maury, juntou-se ao argumentista Yves H. (Le Secret des Hommes-Chiens, Rodrigo, Zhong Guo, Manhattan Beach 1957, The Girl From Ipanema) para criar Duke, uma série que nos transporta ao imaginário westerniano dos anos 1880. “A Lama e o Sangue” (Arte de Autor, 2017) é o título do primeiro álbum de uma série que conta já com quatro volumes, todos publicados em Portugal pela Arte de Autor.
Em 1886, um dos pequenos povoados do Colorado vive dias muito difíceis, muito por culpa de Mr. Mullins. Dono da mina que sustenta o povoado, Mullins paga uma miséria aos seus trabalhadores e considera que o mundo lhe pertence, parecendo ter a justiça no bolso das calças: “Marshal, a mina, os edifícios, os animais! Os homens! Tudo o que há aqui me pertence. Por isso, sou eu quem decide a maneira como eu resolvo os problemas”.
O pau mandado e executor de Mullins dá pelo nome de McCaulky, um tipo sem escrúpulos, sádico dos sete costados e que tem um dedo pesado no gatilho, disparando sempre antes de fazer qualquer pergunta. Para Duke, o adjunto do Marshal, o código de honra é evidente, mesmo em tempos onde a violência é norma: “Não se toca nas mulheres e nas crianças…”. Perante a complacência do Marshal, será Duke a chegar-se à frente, balançando entre a missão de fazer cumprir a justiça e impedir uma tentativa de justiça popular.
Há também Peg, a prostituta que acalenta o sonho de ir com Duke para o Luisiana, mesmo que este lhe diga de forma pouco ou nada sedutora: “Comigo, só conhecerás miséria e privações. Nasci das trevas e hei-de-morrer na lama e no sangue”.
Há poesia e escuridão, salpicada a espaços com a cor e a tranquilidade da natureza, num livro com um (falso) final feliz que nos faz reflectir sobre a condição humana e a violência – e até que ponto esta última pode reformular a ideia que temos de nós próprios.
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