“Duelo” (Planeta Tangerina, 2022) remete-nos para um cenário bélico, de confronto, de combate entre duas pessoas armadas, segundo regras estabelecidas e diante de testemunhas. Abrimos o livro e, nas guardas iniciais, surge-nos um envelope. O leitor poderá ficar confuso, mas rapidamente entenderá que se trata de uma carta ilustrada, dirigida a Rodin Rostov, adversário do protagonista, que se sente ofendido. Mal-entendidos e quezílias que ferem as orelhas e o coração, não deverão ficar esquecidos. O duelo é então marcado. De costas com costas, contam os passos que os separam. Afinal, não é assim o procedimento num duelo? 1,2,3,4 e lá vão eles, afastando-se, afastando-se… E, ao contrário do previsto, a separação dilui a dor, dando lugar ao sol, ao desabrochar das flores, ao perdão e à paz.
A ilustração, em plena harmonia com a narrativa poética, conduz-nos pelo mundo colorido, feito de muitas pessoas – todas diferentes -, animais, flores ou paisagens deslumbrantes, unidos pela minúcia e curiosidade. O traço ténue, quase invisível, transforma o múltiplo no uno, o insignificante em eloquente. A paleta de cores oscila entre o tom branco e cinza, azul e verde, amarelo e laranja; entre a frieza e o calor da vida.
“Duelo”, de Inês Viegas Oliveira, é um livro belo, belíssimo, inspirador. Simples sem ser simplista. Moral sem ser moralizador. Um grito de alerta à diversidade e à tolerância. O álbum foi criado no âmbito do projeto “Every Story Matters”, que tem como objectivo incentivar a criação de livros que promovam a inclusão e a bibliodiversidade através da literatura infantil.
Inês Viegas Oliveira nasceu em Tavira, em 1995. Numa tentativa de saber tudo licenciou-se em Física e, após meio mestrado em Matemática, percebeu que no fundo não sabia nada. Fez depois uma pós-graduação em ilustração na UAL, que a deixou mais descansada. Em 2020 foi seleccionada para a exposição de ilustradores da Feira do Livro de Bolonha e, em 2022, foi finalista nessa mesma exposição.
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