No ano de 1996, a SIC começava a exibir uma série de animé que se viria a tornar num dos mais sérios e algo inexplicáveis fenómenos de sempre em Portugal: Dragon Ball Z. As aulas paravam, os bares e os cafés enchiam-se, os pais insurgiam-se contra o espírito violento da série, que obrigou a que as dobragens fossem dadas à inventividade, apostando no humor e na liberdade criativa ao incluir piadas e gírias nacionais em vez de seguir a tradução literal. O merchandise vendia-se como pãezinhos quentes, fossem as cassetes de áudio não oficiais – e em versão portuguesa – ou as colecções de cromos, que muitos guardam ainda como relíquias de um tempo irrepetível.
As boas notícias para os fãs de Dragon Ball em Portugal, actuais e futuros, chegaram no final de 2024 com o selo da Devir. À semelhança do que aconteceu com One Piece, a editora iniciou a publicação da série original escrita e desenhada por Akira Toriyama em volumes triplos – serão 14 no total -, começando com “Dragon Ball 1: Son Goku e os Seus Amigos” (Devir, 2024). O que, em tempos dados a censurar tudo o que seja minimamente desviante, é motivo para fazer a festa.
Son Goku é um miúdo com uma força considerável, dado à auto-suficiência, vivendo sozinho nas profundezas de uma montanha. É capaz de caçar um tigre, um urso ou de apanhar, sem recurso a canas ou redes, um peixe capaz de alimentar uma dúzia de pessoas. Do avô, que partiu não há muito, recebeu ensinamentos importantes como este, que partilha com Bulma, uma miúda com uma missão: “Disse-me que, se algum dia visse uma mulher, devia tratá-a bem”.
Acompanhada do seu Dragon Radar, Bulma é uma miúda com uma missão: recolher as Dragon Balls. “São sete ao todo e caracterizam-se pelo seu leve brilho e pelo facto de no seu interior haver entre uma e sete estrelas. (…) Se juntares as sete e recitares o encantamento, aparece Shen Long, o «Deus dos Dragões», e concede-te um desejo, seja ele qual for!”. O de Bulma já está escolhido: um namorado de sonho.
Apesar de achar Son Goku um campónio com uma cauda falsa, Bulma vê nele um poderoso aliado para recolher as sete bolas, partindo numa missão onde irão conhecer um grupo de incríveis personagens como Muten Roshi, mais conhecido por Tartaruga Eremita, um velho mestre com um elevado índice de taradice, capaz de esculpir frases como esta: “Eu posso dar-te outra coisa qualquer, mas… só se me mostrares as tuas cuequinhas” – não é, claramente, um mangá para meninos.
Neste volume de iniciação são muitos os pontos altos, seja um castelo recheado de tesouros cercado por um fogo permanente, um bandido do deserto que tem medo de mulheres, um gangue formado por coelhos, uma miúda que muda de personalidade de cada vez que espirra ou o início do treino de Son Goku pelo Tartaruga Eremita, um treino duro onde terá a companhia de Krillin, tentando chegar ao Grande Torneio de Artes Marciais Para Determinar o Número Um Sob Os Céus. E tudo seguindo o mantra do mestre: “Mexer-se bem, aprender bem, brincar bem, comer bem e descansar bem”. Esta (série) é definitivamente para coleccionar.
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Nota: Ainda estamos para perceber como Bulma e amigos recuperaram as bolas recolhidas que tinham perdido a certa altura do primeiro volume. Se tiverem ideias partilhem!
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