Christopher Paolini, celebrizado por “Eragon”, estreia-se na ficção científica para adultos com “Dormir num Mar de Estrelas” (Edições Asa, 2020), que nos transporta no tempo e no espaço, até aos confins do universo conhecido no ano 2257.
Por esta altura, a espécie humana já se expandiu pelas galáxias, sem nunca abandonar o sistema solar, que goza de um estatuto especial na Liga dos Mundos Aliados, ao ponto de despertar o ressentimento dos habitantes de algumas colónias. A acção começa numa lua chamada Adrasteia, de onde estão prestes a partir os investigadores que, ao serviço de uma empresa, passaram meses a estudar o potencial desse mundo para ser colonizado. Os dados são animadores, até que um incidente leva a protagonista da história, a xenobióloga Kira Navárez, a descobrir uma estrutura alienígena, a segunda prova alguma vez encontrada da existência de vida inteligente não humana. Porém, o seu entusiasmo depressa é substituído por terror, quando um pó negro começa a mover-se pelo seu corpo.
Em consequência deste evento, “a crueldade aleatória do universo” altera todos os planos de Kira para o futuro. A entidade que se infiltra no seu corpo começa por ser sentida como “uma presença horrível, sufocante, estranguladora”, mas as fronteiras entre hóspede e hospedeira cedo se esbatem, dando lugar à partilha de memórias e sonhos, através dos quais Kira acede a vislumbres de “planetas estranhos com céus estranhos” e “medos sem nome, ancestrais e alienígenas”. A camada de material negro que a reveste, fazendo lembrar “faixas de músculos sobrepostas”, funciona igualmente bem como arma e como armadura, dotando-a ainda de outras aptidões que lhe permitem desempenhar um papel crucial numa guerra intergaláctica, quando surgem espécies hostis e se inicia uma corrida para localizar uma arma antiga com o poder de destruir mundos.
Num livro que o autor dedica não só à sua família, mas também aos “cientistas, engenheiros e sonhadores que trabalham na construção do nosso futuro entre as estrelas”, é interessante reparar na maneira cuidada e plausível como novas tecnologias são integradas no quotidiano. Procedimentos como a transferência de mentes humanas para corpos artificiais e a manipulação genética para tornar os indivíduos mais aptos para a vida noutros ambientes, ou para a execução de determinadas funções, tornaram-se comuns. A antimatéria serve de combustível espacial, permitindo ultrapassar a velocidade da luz, e as pessoas possuem implantes que funcionam como intercomunicadores, arquivos de memórias pessoais, detectores de radiações invisíveis aos olhos humanos, leitores de realidade aumentada e terminais de pesquisa de informação, entre outras funcionalidades.
A narrativa é muito rica em pormenores e a criatividade na concepção deste futuro para a Humanidade, bem como na caracterização das espécies alienígenas, é admirável. O primeiro volume termina fornecendo respostas a algumas questões, ao mesmo tempo que revela novos problemas e deixa por resolver mistérios suficientes para suscitar a curiosidade do leitor quanto à continuação da História.
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