Diz-se que a democracia grega foi fundamental para o nascimento da filosofia, porque estimulou o espírito crítico, o questionamento, a problematização e o confronto de ideias. O debate de ideias, enquanto saudável prática democrática, amplia horizontes e saberes, possibilita outras abordagens e linguagens, o aprofundamento de argumentos que nos enriquece enquanto seres pensantes.
Vivemos momentos convulsivos, onde o ruído não nos deixa escutar o outro, onde cada um grita mais alto e em que persiste a dificuldade de aceitar a opinião do outro, anuindo que hajam ideias distintas. O confronto e a divergência de opiniões estão a ultrapassar os limites do benigno, dando lugar ao conflito, ao mau-estar e a problemas vários. Ganhará quem gritar mais alto?
“Discórdia” (Pato Lógico, 2021) é uma fabulosa e poderosa narrativa visual, que nos fala da polarização de opinião e da necessidade de encontrar soluções ou redes de entendimento que tornem a vida em comunidade aprazível. A narrativa tem início nas guardas do livro, onde é visível um balão de cor púrpura numa mistura equilibrada, transmitindo a sensação de prosperidade e respeito.
Quando o balão de cor púrpura conhece o balão laranja, cheio de entusiasmo e energia, tudo se complica. Os dois balões dão lugar a um balão bicolor, que cresce desmesuradamente sem que ninguém o consiga parar. Onde existia cor instala-se agora o negro. Na narrativa, assim como na vida, é necessário encontrar novas soluções, reunir sinergias e descobrir, em conjunto e de forma mais reflexiva, que cores distintas podem coabitar e encontrar a harmonia. Tolerância, respeito e flexibilidade ganham sentido e torna-nos mais conscientes da importância da convivência social.
Este livro nasceu de um trabalho do curso de ilustração, leccionado em 2019 por Catarina Sobral e Tiago Guerreiro, com a orientação de André Letria, editor da Pato Lógico. Um dos exercícios do curso era, precisamente, a criação de uma narrativa visual para a colecção de livros silenciosos Imagens Que Contam – apenas com uma palavra, a do título -, contribuindo desta forma para uma narrativa poderosa.
Nani Brunini nasceu em 1976, em São Paulo. Antes de se mudar para Lisboa, onde vive actualmente, morou em Mannheim, Helsínquia, Londres e São Francisco. Estudou Artes Plásticas na Universidade de São Paulo e Design Industrial na UFPE no Recife. Fez mestrado em Design Management na Universidade de Cambridge, em Inglaterra. Depois de 10 anos a trabalhar com pesquisa e estratégia em design, em agências como a TBWA em Helsínquia e a Samsung em Londres, deixou de lado os Powerpoints e voltou aos pincéis e lápis de cor. Desde então, tem ilustrado posters, embalagens, ícones e websites. Em 2020, foi convidada a publicar esta “Discórdia” – o seu primeiro livro.
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