Há quem diga, indo procurar inspiração na sabedoria popular – ou dando-lhe um valente coice -, que vegetais não puxam carroça, e que até dão, em caso de exclusividade, uma certa fraqueza a um corpinho que precisa de carne e peixe para se manter à tona. Pois bem, a verdade é que Matt Pritchard, vegan dos sete costados, se chega à frente como um atleta de endurance, dedicado a desportos e a desafios extremos ou, simplesmente, para deixar a adrenalina fluir.
Pritchard, um dos co-criadores do programa de MTV intitulado “Dirty Sanchez”, diz que a melhor coisa que lhe aconteceu foi ter-se tornado vegan, mas desenganem-se aqueles que acham que atirou de vez com o lema “durmo quando morrer” às urtigas. Bastará passar os olhos por “Dirty Vegan” (ArtePlural, 2022), livro no qual emprata quase 100 pratos, para encontrar sugestões como um smoothie de ressaca, um pequeno-almoço completo para ressacas ou uns bifes de aipo com lentilhas em vinho tinto para nos mostrar que o espírito festivo continua a imperar. Não é à toa que, logo de entrada, Pritchard seja apresentado como skateboarder, atleta de triatlo e cozinheiro.
Sem se mostrar fundamentalista, o apresentador do primeiro programa de culinária vegan da BBC – Dirty Vegan, como no livro – dirige-se a três diferentes tipos de leitor: os vegans principiantes, os cozinheiros principiantes e todos aqueles que querem ter uma alimentação saudável e saborosa. Nas suas palavras, há aqui “receitas rebeldes para comer bem, de forma saudável e saborosa, e ficar em forma”.
A sua relação apaixonada com a comida não é de agora. Aos 16 anos, na cidade natal de Cardiff, estudou cozinha numa escola superior de hotelaria, uma vocação que ficou a marinar enquanto, durante cerca de vinte anos, se dedicou ao skateboard e a viajar um pouco pelos cantos do planeta, antes de se dedicar a uma dieta vegan que diz ter-lhe transformado a vida.
O livro, com uma atraente componente visual e uma paginação muito bem conseguida, começa por nos contar, ao estilo de uma novela curta, o percurso extravagante de Matt Pritchard que, em miúdo, sonhava com ser duplo de cinema – e que, num certo ponto da linha cronológica, achou que até nem seria mau passar o resto da vida a limpar janelas. Segue-se um precioso capítulo dedicado a Ingredientes, Utensílios e Dicas Especiais, que vão dar muito jeito a quem queira incluir algumas destas receitas no menu semanal. O melhor vem depois, com quase cem receitas divididas em capítulos com nomes que poderiam ter sido sacados a manobras de skateboard: Arranque Matinal; Êxitos Instantâneos e Outras Boas Garfadas; Comidinha de Coelho; Aconchegos de Pança; Pratos Realmente Especiais; A Melhor Companhia Para Um Prato Principal; Doçaria e Dilatadores de Barriga.
Em cerca de 200 páginas não faltam sugestões que irão levar a melhor sobre o carnívora mais acérrimo, ou aquele vegetariano com peixe que já desenvolveu barbatanas. O que dizer, por exemplo, de uns peixinhos da horta estivais em polme de cerveja (artesanal) com aioli? Ou de uma sopa indiana de couve-flor, espinafres e lentilhas? Ou, para os que querem desapertar o primeiro botão das calças depois da refeição, um chili de quatro/cinco/seis feijões? Os mais gulosos não ficam esquecidos, podendo experimentar coisas tão incríveis quanto um ananás assado em rum com creme de coco, um cheesecake vegan ou, ainda, um arroz doce com compota de mirtilo.
Para cada receita indica-se o tempo de preparação, o número de pessoas a que se destina, os ingredientes necessários e o modo de preparação, não sem antes motivar o chef que há em cada um com uma sinopse inspiradora. Há ingredientes estranhos ou que provavelmente não irá encontrar no supermercado da esquina – ou mesmo na grande superfície onde costuma ir para encher o carro de compras -, mas pode sempre usar alternativas ou mesmo prescindir de alguns deles. Vegan ou não, se gosta de comer bem e de viver novas aventuras em cima da mesa, este é um livro obrigatório.
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