Por vezes, a diferença entre o optimismo e o pessimismo acontece como numa variação climática nos Açores: de um sol quase radioso passamos, tal partida meteorológica, para um dia de nevoeiro cerrado, onde ver um palmo à frente dos olhos é já um achado.
Em “Dia bom ou dia mau” (Oficina do Livro, 2017), Isabel Zambujal apresenta-nos aos gémeos Abel e Amália, que partilham o mesmo código genético mas são muito diferentes entre si. “Um vê tudo com olhos zangados e outro com olhos alegres”, uma diferença que começou logo quando saíram da barriga da mãe: “O Abel chorou como se o prendessem. A Amália deu gargalhadas como se lhe fizessem cócegas”. Entre eles, tudo é diferente: o espaço da casa, as primeiras papas, as visitas aos avós, a relação com os amigos ou o último pensamento antes de irem dormir. Até que, um dia, “os gémeos trocaram de nome, de roupa e de maneira de pensar”.
Isabel Zambujal mostra aos mais pequenos que não é fácil pormo-nos no lugar do outro. Que o diga Amália que, quando no corpo de Abel e à moda de um filme de terror, gritava com olhos e boca zangados: “Não quero ser assim!”.
As ilustrações mostram o crescimento infantil quase em câmara lenta, com traços ao estilo de rabiscos infantis e as falas escritas à mão e em letra delicada.
Feitas as contas, se a vida se apresentar como uma taça de gelado servida a meio, o melhor é olhar para ela como meio cheia, em vez de seguirmos a via do meio vazia.
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