Foi a 3 de Março, na Fábrica das Palavras em Vila Franca de Xira, que foi inaugurado o Cartoon Xira, uma restrospectiva dos melhores cartoons publicados em 2017 que poderá ser visitada até ao dia 8 de Julho, e que conta com a presença de 12 cartoonistas de referência nacional: António Antunes (que comissaria a exposição, em colaboração com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira); Vasco Gargalo (reconhecido pela Cartoon Home Network como o melhor cartoonista europeu de 2017); José Bandeira: Carlos Brito; André Carrilho; Augusto Cid; Cristina Sampaio; António Jorge Gonçalves; António Maia; Rodrigo Matos; Henrique Monteiro; Cristiano Salgado.
Tal como tem acontecido em edições anteriores, a Cartoon Xira conta também com a participação de um convidado internacional, cabendo a Oscar Grillo o papel de destaque na edição deste ano. Nascido em Buenos Aires em 1943 (com raízes lusitanas, já que a sua mãe era portuguesa) e residente em Londres desde 1971, esta é a primeira vez que Oscar Grillo expõe em Portugal. Uma participação que está reflectida no livro “Desenhos Desordenados” (Documenta, 2018), mais um belo catálogo que chega às livrarias em capa dura e impresso em papel a preceito.
Oscar Griillo dedica-se à pintura, à ilustração e à animação desde os 16 anos, residindo em Londres desde o ano de 1971, cidade onde continuou a trabalhar em ilustração e pintura. Publicou desenhos humorísticos para revistas satíricas, tendo dirigido e animado um número considerável de anúncios publicitários, bem como curtas-metragens animadas, onde se inclui “Seaside Woman”, com música de Linda e Paul McCartney, que recebeu em 1980 a Palma de Ouro em Cannes. Foi nesse mesmo ano que fundou, juntamente com Ted Rockley, a Klactoveesedstene Animations.
No prólogo a esta edição, Oscar Grillo fala das suas muitas influências, sobretudo a de André François e das “linhas tracejadas com a parte de trás de um pincel e tinta texturizada que transbordava as linhas“. A essa iriam juntar-se muitas outras, como a Nouvelle Vague, Fellini, Bergman, Dostoiévski, Roberto Ralt e Neruda, ou ainda os tangos de Astor Piazzolla e as pinturas de Soutine, Picasso ou Kooning.
“Fiz tudo o que era possível fazer como artista gráfico para ganhar a vida e me divertir“, diz a certa altura, falando da sua obra como “o resumo gráfico de todas as linhas que tracei por prazer, capricho ou curiosidade desde tenra idade. Gosto de desenhar de todas as formas que me são possíveis. Não acredito na técnica mas, sim, acredito na criação espontânea; que o desenho saia e vá para o lugar onde quer ir“. Ele que, no que diz respeito ao seu humor, diz ter como objectivo “o sorriso e não a gargalhada“.
Uma diversidade de técnicas e de temas que está bem reflectida em “Desenhos Desordenados”, onde descobrimos Rembrandt e Van Gogh, Pinóquio, a Raposa e o Gato, Tango, Satie e Fado, Betty Boop e – sobretudo – a sua irmã Bernardette, Franz Kafka, Dom Quixote e um bem composto universo infantil, em cartoons com uma dose bem servida de nonsense e surrealismo.
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