E eis que, após 32 números compilados em seis volumes de capa dura, chega ao fim a série Descender, assinada pela dupla Jeff Lemire (argumento) e Dustin Nguyen (arte), que levou para casa uma série de prémios importantes.
Com um enquadramento inicial arrancado ao Scottiano Blade Runner, que depois se veio a transformar numa space opera com muito metal à mistura, a saga termina com “A Guerra das Máquinas” (G. Floy, 2020), que recua 4000 anos no tempo até Ostrakov, o lar da mais avançada civilização da Galáxia, que um tanto paradoxalmente vive com medo do progresso. “Como podemos progredir, se continuarmos atolados em mitos e contos de fadas?”, pergunta o mestre professor Osiris, narrador neste regresso ao passado, que após a descoberta de uma civilização avançada não orgânica deixa uma interrogação: teremos sido criados pelas máquinas?
Porém, um mau uso da aprendizagem e da tecnologia criada pelos Descendores leva a uma vingança destes sobre a humanidade, que como sabemos decidiu retribuir a afronta e eliminar da galáxia todos os robots a que conseguiu deitar a mão.
Agora, no tempo presente, todos os grupos e facções diferentes perseguem TIM-21, o rapaz-máquina que pode ser a chave para a salvação ou eliminação do mundo humano, numa altura do calendário que coincide com a revolução robótica em toda a galáxia. O Broca, que como se sabe é uma grande moca, pode ter descoberto num improvável companheiro de cativeiro uma arma que alimenta a esperança da presença humana no universo, numa história que, se fosse para crianças, poderia ser contada desta forma: “Havia um rapaz. E o irmão dele, e o seu cão. Havia um rei louco. Havia um soldado. Havia a filha do soldado e um louco. E havia um combatente da liberdade”. O final, que decorre como a descida de uma vertiginosa etapa de montanha em duas rodas, reserva-nos uma surpresa de todo o tamanho. Preparados para Ascender?
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